Esta data no Evangelho (27 de fevereiro)

Francisco Muniz // 




Vamos buscar, nesta data, 27 de fevereiro, na Primeira Epístola de João o assunto de nossos comentários de hoje, dando prosseguimento ao estudo de algumas passagens do Novo Testamento, sob a inspiração da Doutrina Espírita, recordando que Allan Kardec foi também um prestimoso apóstolo do Cristo. Eis o texto que nos propomos analisar, recolhido na Bíblia de Jerusalém, onde o vemos sob a epígrafe “Quarta condição: preservar-se dos anticristos”:

“Quanto a vós, a unção que recebestes dele permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas como sua unção vos ensina tudo, e ela é verdadeira e não mentirosa, assim como ela vos ensinou, permanecei nele.”

Mais uma vez, é da mediunidade que falaremos, concitados pela observação do apóstolo que Jesus amava, dirigida, inicialmente, aos discípulos que receberam diretamente do Messias a unção, isto é, o despertamento das faculdades mediúnicas que se lhes dormitavam em germe. Todos os homens são médiuns, em maior ou menor grau (*), ensina-nos Allan Kardec, dispondo cada um, portanto, das condições orgânicas que nos capacitam ao intercâmbio com os seres do mundo espiritual. Com sua indiscutível autoridade moral sobre o Espírito imortal, tanto os encarnados quanto os desencarnados, o Cristo pôde dinamizar os recursos psíquicos de seus discípulos para esse intercâmbio, tornado evidente no dia de Pentecostes, conforme relatado pelo evangelista Lucas em Atos dos Apóstolos.

Assim, se receberam do próprio Senhor a unção dinamizadora da mediunidade, esses discípulos não tinham mesmo nenhuma necessidade de que alguém os ensinasse como proceder, ao contrário dos discípulos de hoje, nós, os aprendizes do Espiritismo, que encontramos nas orientações de Kardec o guia capaz de nos conduzir eficazmente pelos caminhos da mediunidade com Jesus. A eclosão da mediunidade configura aquele “batismo de fogo” – ou “com o Espírito Santo”, segundo Mateus – referido por João Batista, aludindo às “línguas de fogo” anunciadas posteriormente pelo Cristo ao delinear a missão que cabia a seus seguidores.

Durante muito tempo o exercício mediúnico sofreu a execração da Igreja, que via no intercâmbio com os Espíritos um ato de feitiçaria e com isso muitos médiuns, acusados de bruxaria e acumpliciamento com os “demônios”, foram perseguidos, torturados e até mesmo mortos nas fogueiras acesas pela chamada Santa Inquisição. As trevas da Idade Média se dissiparam, em parte, propiciando a reabilitação da faculdade mediúnica através da Terceira Revelação, quando “as vozes do céu” se fizeram ouvir com maior intensidade: “Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos céus, como um imenso exército que se movimenta desde que dele recebeu o comando, espalham-se sobre toda a superfície da Terra: semelhantes às estrelas cadentes, vêm iluminar o caminho e abrir os olhos aos cegos” (**).

Como se percebe, foi pela mediunidade que o Espiritismo teve sua gênese – o episódio das mesas girantes que terminou por atrair a atenção do “sábio de Lyon” é revelador dessa verdade – e é por ela que cumprirá sua missão gloriosa no mundo, oferecendo os meios para a regeneração moral de toda a Humanidade, porquanto essa é a vontade de Deus que o Cristo desenvolve no mundo que governa. A missão dos espíritas conscientes, portanto, é auxiliar nessa obra sendo instrumentos dóceis dos Divinos Emissários, os colaboradores de Jesus que assim nos estimulam às atitudes de aquisição de virtudes propiciadoras de nossa impostergável transformação interior.

Notas

(*) Ver O Livro dos Médiuns.

(**) O Espírito de Verdade, in O Evangelho Segundo o Espiritismo, prefácio.


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