Francisco Muniz //
Hoje, dia 26 de fevereiro, nosso estudo de algumas passagens
do Novo Testamento nos leva outra vez ao Evangelho de Lucas, para comentarmos o
versículo 26 do segundo capítulo, que vem colocado sob a epígrafe “Apresentação
de Jesus no Templo”. Eis o texto, retirado, como sempre, das páginas da Bíblia
de Jerusalém, para nossa abordagem à luz meridiana (*) da Doutrina Espírita:
“E havia em Jerusalém um homem chamado Simeão que era
justo e piedoso; ele esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo estava nele.”
Quem se dispuser a comparar os textos evangélicos ficará
pelo menos surpreso ao notar que Lucas despreza completamente o relato de
Mateus, por exemplo, que é historicamente muito mais rico de detalhes. Acontece
que o evangelista grego, médico do apóstolo Paulo de Tarso, não era judeu e
atuou como um verdadeiro jornalista ao escrever sobre os atos de Jesus e seus discípulos,
atendo-se aos fatos, ao contrário dos outros três canônicos – o citado Mateus,
Marcos e João. Por isso notamos Mateus citar a fuga de José e Maria para o
Egito, levando o recém-nascido Jesus, salvando-o da sanha criminosa do rei
Herodes, porquanto isso corresponde às profecias, enquanto Lucas desconhece
esse episódio e relata unicamente as práticas judaicas referentes aos infantes.
Assim, Lucas nos informa que o menino Jesus foi circuncidado
no oitavo dia de vida, conforme estabeleciam as recomendações de Moisés, sendo
levado à apresentação no Templo, em Jerusalém, antes de completar o primeiro
aniversário. É nesse momento que se dá o encontro com o velho Simeão – e julgamos
que tal informação o evangelista a colheu entrevistando, talvez, Maria
Santíssima, a única fonte confiável sobre tão curiosa passagem. Segundo o
texto, além de justo e piedoso, Simeão era reconhecidamente um médium (“o
Espírito Santo estava nele”), o que lhe conferia a condição de profeta. Ele
esperava unicamente ver o redentor da Humanidade para se despedir da vida
física. O Mestre afirmara, certa vez, que não convém a um profeta morrer fora
de Jerusalém (Lucas 13:31-35), a “cidade da paz”, de acordo com Pastorino, em
sua obra Sabedoria do Evangelho (Ed. Sabedoria, Rio de Janeiro, 1967).
Conhecedor das Escrituras, Simeão, nome que em hebraico significa
“ele ouviu”, não apenas leu os relatos históricos dos judeus, especialmente as
profecias de Isaías sobre o advento do Messias, mas ouviu de seus guias
espirituais que ele não desencarnaria antes de ver o tão aguardado Salvador do
mundo. Em O Livro dos Médiuns (**), Allan Kardec descreve a extensa
variedade das faculdades mediúnicas, dentre as quais cita a dos médiuns
audientes, aqueles que ouvem os Espíritos, sendo uma condição bastante comum
que se prende à classificação geral de “médiuns especiais para os efeitos
intelectuais”. O Codificador chama-nos a atenção para o fato de que “há muitos
que creem ouvir o que não está senão em sua imaginação”, de forma que os
aprendizes do Espiritismo necessitam aprofundar-se nos estudos da mediunidade,
principal ferramenta da Ciência Espírita.
Em suas conceituações nesse livro, Kardec contou com a
colaboração de muitos Espíritos, especialmente Erasto, que foi discípulo de
Paulo de Tarso e certamente conhecera nosso caríssimo Lucas. Nesse trabalho
pioneiro, Kardec oferece um guia seguro para o exercício da mediunidade com
Jesus, o que significa observar-se a moral cristã como base dessa prática.
Segundo observação de Erasto, “o médium que tomasse estas reflexões por mal
provaria uma coisa: que não é bom médium, quer dizer, que está assistido por
maus Espíritos (...) Se não podeis conduzi-los para o bom caminho, lamentai-os,
porque, posso dizê-lo, são réprobos de Deus”.
Notas
(*) Luz meridiana: a claridade máxima que há no meio-dia, ou
comparável à dessa hora, conforme o Dicionário Caudas-Aulete.
(**) Segunda obra da Codificação espírita, correspondente à
segunda parte de O Livro dos Espíritos, desenvolve o aspecto científico
da Doutrina Espírita.
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