Esta data no Evangelho (25 de fevereiro)

Francisco Muniz // 




“A primeira Páscoa” intitula a segunda parte do Evangelho de João, tratando da ida de Jesus a Jerusalém para participar, com seus discípulos, da maior festividade dos judeus de seu tempo. Nele, o segundo versículo, colocado sob a epígrafe “Estada em Jerusalém”, é a fonte de nossos comentários neste dia 24 de fevereiro, de modo que apresentamos o texto, colhido na Bíblia de Jerusalém:

“Mas Jesus não tinha confiança neles, porque os conhecia a todos (...)”

Antes de dizermos por que Jesus, sendo o médium de Deus, nos conhece a todos, vejamos o que as reticências escondem, relendo o versículo anterior e principalmente o posterior, a fim de melhor compreendermos o pensamento do evangelista. João informa que “enquanto estava [o Mestre, evidentemente] em Jerusalém, para a festa da Páscoa, vendo os sinais que ele fazia, muitos creram em seu nome” (2:23); Jesus, como vemos, não dá crédito a essa multidão, “(...) e não necessitava que lhe dessem testemunho sobre o homem, porque ele conhecia o que havia no homem”.

Realmente, com sua presciência o Messias não somente lia na alma, na mente daquelas pessoas, do mesmo modo como avalia o alcance de nossa capacidade de discípulos, seus novos seguidores pelo Espiritismo. Ele sabia de tudo que teria a enfrentar em sua jornada missionária pelo mundo, porquanto devidamente informado da disposição volúvel da população, que num primeiro momento o aplaudia e logo depois pediria por sua crucificação. Sim, o Nazareno, o Filho de Deus conhecia, como conhece, os meandros do coração humano, razão pela qual pôde dizer a Joana de Cusa, por exemplo, que o amasse à distância, servindo melhor a seu marido, à própria família.

Do mesmo modo, fez Pedro saber que o Pescador ainda não possuía os requisitos morais suficientes para segui-lo a toda parte, como Simão havia impulsiva e ingenuamente declarado, uma vez que nos momentos cruciais de sua prova o apóstolo o negaria três vezes. Jesus identificava a fraqueza de caráter nas pessoas da mesma maneira como observa nosso poder de recuperação a cada defecção, recebendo-nos de volta ao seu rebanho após cada fuga de nossas responsabilidades. Não é à toa que seu amoroso convite ainda reverbera em nossa consciência, chamando-nos a atenção para trilharmos o único caminho capaz de nos tirar do pântano de nossa inferioridade moral: “Vinde a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados e eu os aliviarei!”

Mas é preciso, sobretudo, como João indica em seu Evangelho, sabermos conquistar a confiança do Cristo, ou, dizendo melhor, tornarmo-nos confiáveis, o que só é possível vivendo as lições imortais que Jesus nos legou. O Mestre não confia em quem somente o procura em função dos fenômenos que podem observar até o êxtase espiritual, uma vez que tais demonstrações não produzem a necessária transformação moral para a construção e posterior adesão ao Reino de Deus. É imperioso que saibamos vestir a túnica nupcial, símbolo da aquisição de valores imperecíveis requisitados à participação no luminoso banquete espiritual referido na Parábola do Festim de Núpcias (Mateus 22:1-14).

Para estarmos devidamente trajados, importa cumprirmos os passos da iniciação espiritual que Jesus indica no Sermão da Montanha, nas onze bem-aventuranças e dos dois ensinamentos subsequentes, nos quais recomenda-nos ser como o sal da terra, que dá sabor a nossos relacionamentos, e a sermos potentes luzeiros capazes de iluminar tanto a nossa quanto a vida de nossos irmãos da retaguarda. Ou seja, que estejamos sempre dispostos a purificar o coração, desprezando o quanto possível as ilusões da realidade perecível, buscando aprender continuamente para, em nome do Cristo, melhor ensinarmos a quem ainda se encontra mergulhado nas trevas da própria ignorância.

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