Francisco Muniz //
Sob a epígrafe “Hipocrisia e vaidade dos escribas e fariseus”,
o segundo versículo do capítulo 23 do Evangelho de Mateus nos traz o tema de
nossos comentários deste dia 23 de fevereiro, na sequência do estudo de algumas
passagens do Novo Testamento. Como já dito, nossa abordagem é feita sob a luz
meridiana do Espiritismo, que nos oferece a chave para a compreensão de muitas,
senão todas as lições do Cristo. Eis, assim, o texto de hoje, tirado, mais uma
vez, da Bíblia de Jerusalém:
“Os escribas e fariseus estão sentados na cátedra de
Moisés.”
São de Jesus as palavras anotadas por Mateus e elas
significam que, do ponto de vista religioso – social, portanto! –, as grandes
ideias e não menores líderes que aglutinam um povo em torno de si não raro
produzem seguidores e continuadores que as desenvolvem e mantêm. No entanto,
como o Messias complementa logo em seguida, nem sempre tais continuadores são
honestos em sua determinação de, com tais ideologias, conduzir as grandes
massas sob sua administração: “Portanto, observai tudo quanto vos disserem. Mas
não imiteis as suas ações, pois dizem, mas não fazem. Amarram fardos pesados e
os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um dedo se dispõem
a movê-lo” (Mateus 23:3-4).
Desde o início de seu messianato, Jesus procurou combater a
postura hipócrita de escribas e fariseus, reparando que eles enganavam o povo
crente prescrevendo imposições descabidas enquanto eles mesmos se eximiam quanto
às disciplinas purificadoras da alma. Tal comportamento discricionário não se
modificou na maioria de nós, na atualidade, uma vez que o progresso moral é bem
mais lento que o material, conforme nos dizem os Espíritos através das lições
de Allan Kardec (*). Até o advento do Espiritismo, nossos olhos físicos
observavam o comportamento dos falsos religiosos – e mesmo o de quem não o
fosse – sem compreendê-los, e assim os criticávamos, julgando-os e
condenando-os, contrariando as recomendações do Mestre nazareno.
Mas o que devemos considerar no versículo sob análise é que,
se os falsos cristos e falsos profetas sentam-se à cátedra de Moisés, não é a
eles que demos seguir, por já sabermos a quem e o que representam; porquanto o
Cristo, dizendo “ouviste o que foi dito aos antigos, eu, porém, vos digo...”,
veio nos ensinar o cumprimento da Lei de Amor; e o Espiritismo, que revive em
nós a pureza do Cristianismo, esclarece-nos quanto à razão dessa prática. Como
as revelações de Deus aos homens são sucessivas e a mais recente complementa as
anteriores, não há motivo para, desprezando os impositivos da lei de progresso,
ficarmos cristalizados no patamar inicial. Moisés nos trouxe o conhecimento da
Lei; Jesus nos mostra como devemos cumpri-la; e a Doutrina Espírita, coroando
os esforços de seus antecessores através da fé raciocinada, desenvolve-nos a
compreensão relativamente a esse cumprimento.
A natureza da Terceira Revelação é por si mesma indicativa
dos novos tempos, facultando-nos um comportamento mais condizente com os ideais
do progresso moral de que tanto necessitamos: “A lei do Antigo Testamento está
personificada em Moisés; a do Novo Testamento está personificada no Cristo; o
Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus, mas não está personificada
em nenhum indivíduo, porque ele é o produto do ensinamento dado, não por um
homem, mas pelos Espíritos, que são ‘as vozes do céu’, sobre todos os pontos da
Terra, e por uma multidão inumerável de intermediários; é, de alguma sorte, um
ser coletivo compreendendo o conjunto dos seres do mundo espiritual, vindo cada
um trazer aos homens o tributo das suas luzes para fazê-los conhecer esse mundo
e a sorte que nele os espera” (**).
Notas
(*) Ver O Livro dos Espíritos.
(**) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. I, itens
5 a 7 (“O Espiritismo”).
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