Esta data no Evangelho (21 de fevereiro)

Francisco Muniz // 




Nesta data, dia 21 de fevereiro, nosso estudo de temas do Novo Testamento – que hoje homenageia a amiga Angélica Santos, ex-presidente do C. E. Lar João Batista (Salvador – BA), em seu retorno à Pátria Espiritual – leva-nos ao capítulo 21 do Evangelho de Lucas, onde encontramos, no versículo 2, o assunto dos comentários que faremos sob a inspiração da Doutrina Espírita. Desse modo, a Bíblia de Jerusalém nos apresenta o texto seguinte, colocado sob a epígrafe “A oferta da viúva”:

“Viu também uma viúva indigente, que lançava duas moedinhas (...)”

A complementação do texto de Lucas se dá nos versículos seguintes: “(...) e disse: ‘De fato, eu vos digo que esta pobre viúva (1) lançou mais do que todos, pois todos aqueles deram do que lhes sobrava para as ofertas; esta, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que possuía para viver’.” Trata-se de mais um apelo do Cristo relativo ao desapego das coisas materiais. Com efeito, se nossa vida é toda espiritual e na Terra estamos por breve tempo, por que fazermos questão de ninharias que em nada nos aproveitará no retorno à Pátria da Verdade? Mais vale utilizarmos tudo quanto está conosco momentaneamente, por mínimo que seja, para beneficiar o próximo, ofertando assim, nossa caridade ao Senhor da Vida.

É desse modo que o exemplo da pobre viúva observada por Jesus ganha mais sentido aos nossos olhos, pois não se trata apenas de fazer caridade aos outros, mas a si mesmo, desfazendo-se do que realmente nos prende às ilusões da vida terrena. Notemos que, nessa passagem evangélica, a viúva faz sua oferta no Templo, significando que as circunstâncias de nossa experiência evolutiva dizem respeito unicamente a nós mesmos e a Deus, a cuja solicitude devemos agradecer constantemente, mesmo que nossa vida material seja revestida de total penúria. Porque, enfim, o que de fato nos interessa – ou deveria interessar – é preparar o passaporte para a viagem de volta, para a qual devemos nos libertar de toda e qualquer pendência no campo do sentimento ou das emoções.

Se, como é fácil constatar, nossa prática da caridade material é incipiente, pois habitualmente doamos de nosso supérfluo ou do que já não nos serve mais, na área sentimental esse esforço deixa muito mais a desejar, vendo no exercício do perdão uma grande dificuldade que ainda não conseguimos superar. Nesse aspecto, o Benfeitor Bezerra de Menezes nos oferece uma lição que merece ser ao menos meditada: “Espíritas, o tempo urge. Amai. Se não puderdes amar, perdoai; se for difícil perdoar, desculpai; e se encontrardes obstáculos para desculpa, tende compaixão, como nosso Pai tem-na em relação a nós todos, ensejando-nos a bênção da reencarnação para reeducarmo-nos, para recuperarmo-nos, para realizarmos a tarefa que ficou interrompida na retaguarda.” (2)

Há quem pense que, em razão da grande viagem que realizaremos em demanda do plano espiritual, onde esperamos encontrar o Reino dos Céus anunciado pelo Cristo, devemos preparar nossa bagagem. Penso, no entanto, ser exatamente o oposto: devemos, isto sim, desfazermos completamente a bagagem trazida do passado, libertando-nos de tudo quanto ainda nos prende à realidade material, uma vez que o Mestre ensinou: “Para o lugar aonde ireis não devereis levar coisa alguma, pois o que levardes poderá impedir vossa passagem pela porta estreita” (3). Que aprendamos, pois, a ofertar nosso “óbolo da viúva”, a fim de não nos vermos em condições ainda mais aflitivas.

Notas

(1) No livro Mulheres do Evangelho (psicografia do médium Robson Pinheiro, ed. Casa dos Espíritos, MG, 2005), o Espírito Estêvão faz um belo relato da história dessa mulher.

(2) Psicografia do médium Divaldo Franco. Ver íntegra em http://www.oespiritismo.com.br/mensagens/ver.php?id1=155

(3) Ver O Evangelho Gnóstico de Tomé, de Hermínio Miranda; ed. Lachâtre, Bragança Paulista – SP, 1995.


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