Francisco Muniz //
É do Evangelho de Marcos o assunto de nossos comentários
neste dia 2 de fevereiro, quando abordaremos o segundo versículo do capítulo 2,
trazendo como epígrafe a “cura de um paralítico”. Eis o texto, colhido na Bíblia
de Jerusalém, com o qual prosseguimos nosso estudo de temas do Novo
Testamento:
“E tantos foram os que se aglomeraram, que já não havia
lugar nem à porta. E anunciava-lhes a Palavra.”
No décimo ou no décimo-primeiro congresso estadual de Espiritismo,
realizado pela FEEB no velho Centro de Convenções, encontrei Ildefonso do
Espírito Santo, ex-presidente da instituição, que me perguntou após nos
cumprimentarmos, referindo-se à programação do evento: “O que há de novo este
ano?” Penso nisso ao iniciar estes comentários, reconhecendo que, sim, as
pessoas são atraídas pelas novidades. Para Ildefonso, um velho conhecedor do
movimento espírita baiano, talvez não houvesse assuntos novos naquele congresso,
mas, refletindo, tempos depois, sobre que resposta poderia ter sido dada ao
saudoso companheiro, talvez eu devesse ter dito que tudo ali era novo como a
própria Doutrina Espírita.
Jesus era a grande novidade na Palestina de dois mil anos
atrás e as multidões de curiosos eram tão numerosas quanto as dos que buscavam
o lenitivo e a esperança que lhe vinham tanto do verbo iluminado quanto da
presença carismática, a todos socorrendo conforme a necessidade de cada um. O
episódio a que se refere o evangelista deu-se na casa de Pedro, em Cafarnaum,
cidade da Galileia (o “jardim fechado”) onde o Mestre estabelecera seu “quartel
general”. Não havia um mínimo espaço que coubesse mais uma pessoa, “não havia
lugar nem à porta” – e podemos imaginar que tanto dentro quanto fora da casa de
Pedro todos se comprimiam para ouvir o Divino Emissário.
Nem todos, porém, estavam ali interessados em aproveitar os
ensinamentos do Messias acerca do anunciado Reino dos Céus, porquanto escribas
e fariseus ajudavam a lotar a residência do pescador Simão, dispostos a colher
material a ser utilizado, posteriormente, contra o Rabi nazareno. Jesus,
contudo, embora conhecesse o pensamento de todos ali, dedicava-se a realizar a
tarefa que o trouxe ao mundo e anunciava-lhes a Palavra de vida eterna que o
tempo se encarregaria de desenvolver naquelas mentes ainda retidas na infância
espiritual.
Na atualidade, o Espiritismo repete, ou revive, graças à
reencarnação, alguns dos processos comuns às experiências dos Espíritos no
campo do aprendizado das lições de Jesus, levando-nos a observar quadros
semelhantes àqueles de dois milênios atrás. Assim é que muita gente se aproxima
do conhecimento doutrinário movidos pela curiosidade em torno dos fenômenos
espíritas, como bem constatou Allan Kardec, só ficando aqueles que realmente
compreendem a importância dos ensinos dos Espíritos para a própria vida, passando
então a modificar seus pensamentos e atitudes.
Jesus, o Mestre do Espírito, bem conhecia o drama das
multidões, formadas pela diversidade dos tipos humanos muito afeitos às
peculiaridades de sua inferioridade moral e, por essa razão, moldáveis pelas
circunstâncias desafiadoras da existência física. Compadecido de nossa cegueira
espiritual – “vendo o céu, teimam em cair no abismo dos erros” (*) –, ele continua
com sua mão segura estendida em nossa direção, dizendo até hoje: “Vinde a mim
todos vós que estais cansados e aflitos e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28).
(*) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI (O Cristo
consolador).
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