Esta data no Evangelho (19 de fevereiro)

Francisco Muniz // 




A primeira parte do capítulo 19 do Evangelho de Lucas é dedicada ao cobrador de impostos Zaqueu, cujo nome corresponde à epígrafe do assunto que comentaremos nesta data, 19 de fevereiro, prosseguindo nosso estudo de temas do Novo Testamento sob a inspiração da Doutrina Espírita. Eis, portanto, o texto do segundo versículo, relativo a este mês, retirado da Bíblia de Jerusalém:

“Havia lá um homem chamado Zaqueu, que era rico e chefe dos publicanos.”

Na Palestina do tempo em que Jesus andou entre nós, os cobradores de impostos, então chamados de publicanos, eram considerados “pessoas de má vida”, assim como todos aqueles que não recebiam a aprovação da sociedade local, marcada fortemente pela hipocrisia. E Zaqueu era o chefe desses publicanos, de forma que a pecha recaía mais fortemente sobre ele e sua família, recebendo a execração pública dos judeus porque os impostos enriqueciam Roma, cujas garras se abateram sobre Israel e as províncias vizinhas. Mas ainda que o Império não recompensasse muito bem seus funcionários, Zaqueu era um homem rico, pois ficava com uma parte do que sua equipe arrecadava.

Nesse versículo, o evangelista Lucas, que fez um primoroso trabalho investigativo para compor seu Evangelho, informa que um certo dia Jesus, acompanhado de seus discípulos, dirigiu-se à famosa cidade de Jericó (1), onde vivia Zaqueu. Como a notícia se espalhasse, uma multidão correu ao encontro da comitiva do Messias, formando uma aglomeração que impedia Zaqueu, homem de pequena estatura, de ver além da mole humana. Para contornar esse problema, ele sobe a um sicômoro (2) e assim pôde avistar Jesus, que também o vê e lhe fala de sua intenção em cear na casa dele. (Em meu livro Casas do Evangelho (3) relato minha versão desse encontro.)

A razão dessa aproximação corresponde à afirmação do Mestre de que não tinha vindo à Terra para os sãos, mas para os doentes, preferindo, assim, andar com os desvalidos, os desesperançados e as pessoas de “má vida” como os ladrões, as prostitutas e os publicanos. Desse modo ele, o Cristo, reacendia a esperança nos corações sofridos, dando ânimo novo àquelas criaturas que, perseguidas, exploradas e diminuídas em sua dignidade, já se acreditavam esquecidas da Misericórdia Divina. É, portanto, por essa ótica que compreendemos o papel de Jesus como o Salvador da Humanidade.

Com Jesus, tal como se deu com Zaqueu, a salvação adentra o espaço sagrado de nossa casa mental, em função do compromisso assumido perante a consciência iluminada pelas lições imortais de renovação íntima trazidas ao nosso conhecimento pelo Divino Emissário. A despeito de sua má fama, isto é, de sua reputação – o que as pessoas pensam e falam sobre alguém –, Zaqueu era uma alma boa e responsável por uma obra de caridade que manteve ao longo das reencarnações que teve até finalizar esse ciclo na última existência carnal, realizada aqui no Brasil, na roupagem do Médico dos Pobres, cognome do Benfeitor espiritual que na Terra atendeu pelo nome de Adolfo Bezerra de Menezes, conforme esclarece o pesquisador espírita Jorge Damas Martins em seu livro O 13º Apóstolo (ed. Novo Ser, 2010).

Notas

(1) Jericó é uma cidade palestina, situada na Cisjordânia, a poucos quilômetros do rio Jordão, a 8 quilômetros da ponta norte do Mar Morto e aproximadamente a 27 km de Jerusalém. É considerada a cidade mais antiga ainda existente, habitada há 11.000 anos. (Wikipédia)

(2) Ficus sycomorus, conhecida pelos nomes comuns de sicómoro, sicômoro, figueira-doida ou figueira-do-faraó, é uma espécie de figueira de raízes profundas e ramos fortes que produz figos de qualidade inferior, cultivada no Oriente Médio e em partes da África há milênios.

(3) Edições CEDLV, 2017.


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