Esta data no Evangelho (18 de fevereiro)

Francisco Muniz // 




Vem da Epístola de Paulo aos Hebreus o assunto dos comentários que faremos hoje, dia 18 de fevereiro, no âmbito de nosso estudo de temas do Novo Testamento. Desse modo, utilizando a Bíblia de Jerusalém, vamos ao capítulo 2 daquela Carta, no qual o versículo 18 traz o seguinte texto que tentaremos interpretar sob a luz da Doutrina Espírita:

“Pois, tendo ele mesmo sofrido pela tentação, é capaz de socorrer os que são tentados.”

Um dito popular informa que “quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece”, deixando entrever que essa assombração (a sombra que nos envolve) são as tentações que por vezes nos assaltam – e justamente nos momentos em que estamos rezando, isto é, decididos a melhorar nossa conduta, recorrendo ao auxílio do Alto. Mas é exatamente aí que somos testados, quando a Divindade parece dizer “se você quer ser uma pessoa melhor, vença esse desafiozinho” – e eis-nos colocados outra vez diante de uma tentação.

Numa de suas belas canções, o cantor e compositor baiano Raul Seixas salienta ser bom ser tentado: “Enquanto eu provo sempre o vinagre e o vinho / eu quero é ter tentação no caminho / pois o homem é o exercício que faz”. Ou seja, é nos exercitando para vencer as tentações que logramos desenvolver nossas potencialidades, crescendo para Deus, principalmente quando nos valemos das lições de Jesus, apelando para ele nos momentos mais tormentosos e decisivos de nossas experiências terrenas. É preciso, então, que os cristãos, especialmente nós que escolhemos aprender pelo Espiritismo, saibamos compreender em que consistiu a tentação de Jesus no deserto naqueles 40 dias de retiro para meditação (*).

De acordo com Pastorino (**) o número 40 representa um ciclo completo de reencarnações redentoras, durante o qual o Espírito passa por todas as disciplinas que lhe garantirão a vitória sobre si mesmo, tornando-o sábio e virtuoso. A tentação de Jesus no deserto significa para nós, portanto, a possibilidade de vencermos as insinuações do ego, sempre voltado para a realidade fenomênica da matéria, exaltando os esforços do Espírito imortal em sua jornada no rumo da individuação, para integrar-se em definitivo à dimensão divina, à qual pertence. O diabo – o Satã das tradições judaico-cristãs – que tenta Jesus é a expressão do ego que, afeito à ideia do poder temporal, opõe-se à Realidade espiritual, ou divina.

É nessa Carta aos Hebreus que o Apóstolo dos Gentios nos fala da condição de Jesus como sumo sacerdote da Ordem de Melquisedeque, tendo encarnado para nos socorrer de nossa inferioridade moral, de nossa extrema ignorância e nos apontar o caminho da salvação espiritual: “Convinha, por isso, que em tudo se tornasse semelhante aos irmãos, para ser, em relação a Deus, um sumo sacerdote misericordioso e fiel, para expiar assim os pecados do povo” (Hebreus 2:17). Portanto, assim como somos tentados o tempo todo, o Cristo se permitiu passar pela mesma experiência a fim de nos mostrar que, com ele, somos capazes de vencer o ego, despertando para a verdade de nós mesmos.

Embora Mateus revele apenas três tentações, no filme A Última Tentação de Cristo (***) somos informados de que foram cinco essas tentações: a primeira foi a luxúria; a segunda, a ganância; a terceira, o poder. Haveria uma quarta, que seria a violência. Quanto à última dessas tentações, a Benfeitora Joanna de Ângelis nos diz, por Divaldo Franco, que seria a sombra de Jesus, o ser luminoso por excelência. Divaldo disse que no início estranhou, mas aceitou a explicação, que se refere ao grande amor do Cristo pela Humanidade e essa paixão lhe constituiria a tal sombra...

Notas

(*) Ver o capítulo 4 do Evangelho de Mateus.

(**) Carlos Torres Pastorino, autor de Sabedoria do Evangelho (ed. Sabedoria, RJ).

(***) Direção de Martin Scorsese, 1988.


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