Esta data no Evangelho (15 de fevereiro)

Francisco Muniz //




O capítulo 15 do Evangelho de João traz, sob a epígrafe “A verdadeira videira”, o assunto que comentaremos hoje, dia 15 de fevereiro, dando sequência a nosso estudo de passagens do Novo Testamento, sob a inspiração da Doutrina Espírita. Assim é que a Bíblia de Jerusalém nos apresenta o versículo 2, no qual Jesus explica a ação de Deus, o divino agricultor:

“Todo ramo em mim que não produz fruto ele o corta, e todo o que produz fruto ele o poda, para que produza mais fruto ainda.”

Recordo-me de que há três anos escrevi uma série se pequenos textos inspirados no Evangelho e voltados para as técnicas pastoris (pesca, agricultura, criação de gado...), resumindo lições de Jesus. A de agricultura, por exemplo e a propósito, traz estes critérios: 1 - abra a Bíblia aleatoriamente; 2 - se caiu no Novo Testamento, escolha algumas sementes de vida eterna; 3 - selecione o terreno fértil e faça o plantio; 4 - preste atenção no joio crescendo junto com seu trigo; 5 - chame trabalhadores para a colheita, indo à praça diversas vezes; 6 - na colheita, faça a seleção, queimando depois o joio; 7 - pague aos trabalhadores o preço combinado, começando dos últimos para os primeiros; 8 - evite derrubar seus celeiros para guardar a colheita.

Jesus se apresenta aí, segundo o evangelista João, como a “verdadeira videira”, a planta boa cujos ramos sempre produzirão bons frutos, numa referência aos seguidores, os atuais cristãos que, compreendendo que as lições correspondem à vontade do Pai Altíssimo, submetem-se ao processo de “poda”, passando pelas provações sacrificiais que os capacitarão a maiores voos da alma. Importa reconhecermos que a palavra “sacrifício” não tem, nos textos do Novo Testamento, o peso terrível que o estreito entendimento mundano lhe conferiu, significando tão somente o cuidado dispensado às coisas sagradas. O sacro ofício, portanto, é a ação responsável de todo discípulo que se faz cioso de sua condição e segue as pegadas de Jesus como sacerdote em seu templo íntimo, como bem o identificou Paulo de Tarso.

É desse modo que, após a poda, o cristão está pronto para produzir novos e melhores frutos e a esse respeito consideramos que a Terceira Revelação representou, no mundo, a realização de uma poda coletiva, universal, capacitando ainda mais aqueles que haviam sido chamados por último ao trabalho na vinha do Senhor. (Muito a propósito, o símbolo da Doutrina dos Espíritos é um ramo de videira!) Na condição de novos cristãos esclarecidos, os espíritas têm sobre os ombros a responsabilidade de, mesmo inconscientemente, desempenhar as funções do sacerdócio segundo a Ordem de Melquisedeque (da qual Jesus é o Sumo Sacerdote), representando o Cristo interna e externamente, de acordo com a instrução paulina (*). Urge, portanto, despertarmos para a necessidade da autotransformação, desprezando os valores ilusórios do mundo pelo cultivo das verdades eternas.

Ou seja, além da poda divina, no âmbito de nossa inconsciência, nós também devemos realizar semelhante processo de modo plenamente consciente, para o que o Espiritismo nos esclarece e prepara. Nesse sentido, convém recordarmos o que informa Allan Kardec em Obras Póstumas, livro no qual o Codificador delineia o futuro da Doutrina, a ser alcançado graças à cooperação dos espíritas sinceros e comprometidos. Ali, Kardec diz que os seguidores do mais novo ramo do Cristianismo não precisam fazer a propaganda da Doutrina nem sua defesa ante os ataques dos detratores, cuidando primordialmente de sua reforma interior. Hoje em dia, isto é tudo quanto as Casas Espíritas idôneas recomendam a seus frequentadores, disseminando os esclarecimentos recebidos pelos Emissários de Jesus.

(*) Ver a Epístola de Paulo aos Hebreus.    


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