Francisco Muniz //
A epígrafe que abre o capítulo 14 de Atos dos Apóstolos é “Evangelização
de Icônio” (1) e, para os comentários desta data, 14 de fevereiro, que faremos sob
a luz meridiana do Espiritismo, prosseguindo o estudo de temas do Novo
Testamento, vamos buscar o versículo 2, cujo texto, despegado da Bíblia de
Jerusalém, é o seguinte:
“Mas os judeus que continuaram incrédulos incitaram e
indispuseram os ânimos dos gentios contra os irmãos.”
Temos, aqui, um exemplo da antiga resistência do tradicionalismo
perante as ideias novas. É, ainda e sempre, nosso proverbial apego ao “status
quo”, àquilo que já se conhece por estar instituído de há muito, levando à
acomodação, como bem referiu Emmanuel ao contar a história do Peixinho Vermelho
no prefácio de um dos livros de André Luiz (2). No entanto, como cantou
Belchior (3), “o novo sempre vem” e quando Jesus chegou para ilustrar a mentalidade
judaica, fortemente arraigada aos ensinamentos de Moisés, ministrava suas lições
revolucionárias do pensamento dizendo assim: “Ouvistes o que foi dito aos
antigos, eu, porém, vos digo...” – e explicava a verdade do Reino de Deus.
Cremos não haver tanto mal em nos mantermos incrédulos ante
as novidades que afrontam nossa maneira de pensar, por preferirmos nos manter
ainda ignorantes acerca da força do progresso que, independentemente de nossa
resistência, arrasta-nos para os caminhos da mudança, se permitíssemos que os
outros tivessem respeitada sua liberdade de escolha. Entretanto, verberamos,
muitas vezes, contra o posicionamento alheio motivados unicamente pelo orgulho
que nos leva a considerar termos a primazia da verdade. Foi por tal motivação
que os orgulhosos escribas e fariseus se indispuseram contra o Cristo e,
depois, conforme Lucas salienta em seu texto, levaram sua animosidade também a
Paulo, tentando atrapalhar a ação evangélica do Apóstolo dos Gentios.
Allan Kardec, igualmente a eles – Paulo e Jesus –, também
sofreu a implicância dos incrédulos quanto à revelação dos Espíritos que, em
nome de Deus e do Cristo e “semelhantes às estrelas cadentes, vêm iluminar o
caminho e abrir os olhos aos cegos” (4), porque “são chegados os tempos em que
todas as coisas devem ser restabelecidas em seu sentido verdadeiro para
dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos”. E a
implicância alheia se deve ao fato de os “donos da verdade” não quererem que a
massa ignara se liberte de seu domínio, numa luta inglória contra o bem maior,
porquanto o progresso é inevitável e caminhamos todos para o objetivo delineado
pelo Cristo: a perfeição relativamente a Deus!
Notas
(1) Icônio (atualmente Konya, pertencente à Turquia) era uma
cidade grega situada entre uma planície fértil muito grande que se estendia ao
norte e ao leste do planalto central do distrito de Licaônia. Em 25 a.C,
Icônio foi feita província romana da Galácia. A cidade estava ligada por uma
estrada que levava a Antioquia da
Pisídia, a uns 170 km a noroeste, e tinha boas linhas de
comércio e comunicação. Era uma comunidade de mente grega, porém muitos judeus
também habitavam ali.
(2) Ver Libertação (psicografia de Chico Xavier, ed.
FEB).
(3) Antonio Carlos Belchior, cantor e compositor brasileiro
(Sobral-CE, 1946 – Santa Cruz do Sul-RS, 2017), autor de “Como nossos pais”, de
onde foi tirada a citação.
(4) Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo (Prefácio).
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