Esta data no Evangelho (12 de fevereiro)

Francisco Muniz // 




“Falar abertamente e sem temor” é a epígrafe de abertura do capítulo 12 do Evangelho de Lucas, do qual retiramos o versículo 2 para fundamentar nossos comentários nesta data, 12 de fevereiro, dando continuidade ao estudo de algumas passagens do Novo Testamento, com base na interpretação da Doutrina Espírita. O texto, copiado da Bíblia de Jerusalém, traz a seguinte lição de Jesus:

“Nada há de encoberto que não venha a ser revelado, nem de oculto que não venha a ser conhecido.”

A frase do Mestre é, na verdade, um alerta que ele fez a seus seguidores, o que Lucas registra desde o primeiro versículo: “Neste ínterim, havendo a multidão afluído aos milhares, a ponto de se esmagarem uns aos outros, ele começou a dizer, em primeiro a seus discípulos: ‘Acautelai-vos do fermento – isto é, da hipocrisia – dos fariseus”. Dito isto, é fácil compreender que a sentença destacada para estes comentários se refere ao que se passa na consciência de cada um de nós, aos segredos inconfessáveis que guardamos unicamente para nós mesmos (o terceiro versículo oferece muito mais material de aprofundamento destas reflexões, mas isto fugiria ao escopo de nosso trabalho).

É certo, há assuntos em nossas almas que dizem respeito apenas a nós próprios, não sendo do interesse de mais ninguém, embora do ponto de vista da psicologia aconteça conosco o que se chama de “ato falho”, quando inadvertidamente deixamos escapar verbalmente um ou outro desses segredos. Enquanto estamos encarnados, é possível guardar “para sempre” algumas ou todas essas questões íntimas, mantendo-nos razoavelmente a salvo do julgamento alheio, mesmo que internamente soframos o peso dessa cruz. Desencarnados, porém, quase já não há possibilidade alguma de mantermos ocultos determinados pensamentos, porque então somos como verdadeiros livros abertos, mostrando-nos tal qual somos junto àqueles que nos acompanham a trajetória.

À semelhança das marcas digitais que nos identificam a individualidade na Terra, pois teoricamente não há duas impressões digitais exatamente iguais, como Espíritos nós nos revelamos uns aos outros através de uma “carteira de identidade” fluídica. Isto é, as marcas do que pensamos, sentimos e até do que fizemos ficam impregnadas em nosso perispírito, como podemos compreender da leitura das obras de André Luiz (psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier), por exemplo. No entanto, não é qualquer Espírito que consegue “ler” os livros alheios, pois é necessário tanto um treinamento quanto alguma elevação moral para tal.

André Luiz, em Nosso Lar (*), cita o exemplo de uma mulher (Espírito, naturalmente) que certo dia forçava a cerca em torno da Colônia homônima onde ele se tratava, mercê da misericórdia divina por intercessão de sua própria mãe. Essa mulher, diz ele, mereceu-lhe alguma compaixão, julgando que ela buscava assistência, mas seu instrutor fê-lo perquirir a real situação em que ela se encontrava. Assim, aguçando a visão espiritual, André percebeu, algo horrorizado, que a mulher trazia seu perispírito incrustado de fetos humanos, denunciando sua condição de aborteira quando encarnada.

Concluímos, assim, que, se é possível enganar as pessoas, não se dá o mesmo perante o Todo-Poderoso, que além de onipotente e onipresente é também onisciente, ou seja, sabe de tudo que se passa no coração de cada um de seus filhos, posto estar presente em todos nós, em todos os seres da Criação. Temos, portanto, o dever de manifestar sinceridade em nossas atitudes e desenvolver aquela pureza de coração que o Cristo sugere no Sermão do Monte, a fim de merecermos os acréscimos de misericórdia que a Divina Justiça nos prodigaliza a todo tempo.

(*) Primeiro volume da série “A Vida no Mundo Espiritual” (psicografia de Chico Xavier), ed. FEB; RJ, 1938.


Comentários