Esta data no Evangelho (10 de fevereiro)

Francisco Muniz // 




Neste dia 10 de fevereiro nosso estudo de temas do Novo Testamento nos leva mais uma vez ao Apocalipse, para comentarmos o teor do segundo versículo do capítulo 10, sob a inspiração da Doutrina Espírita. Eis o texto (de novo, quebrado), colhido nas páginas da Bíblia de Jerusalém:

“(...) e na mão segurava um livrinho aberto. Pousou o pé direito sobre o mar, o esquerdo sobre a terra (...)”

O capítulo é iniciado com a epígrafe “A iminência do castigo final” e no primeiro versículo o evangelista João, autor do livro, diz o seguinte: “Vi depois outro Anjo, forte, descendo do céu: trajava-se com uma nuvem e sobre sua cabeça estava o arco-íris; seu rosto era como o sol, as pernas pareciam colunas de fogo (...)”; as reticências finais informam que esse Anjo “emitiu um forte grito, como um leão quando ruge. Ao gritar, os sete trovões ribombaram suas vozes”. (Ouso dizer, sem base alguma, que esses “sete trovões” que “ribombaram suas vozes” são uma possível referência aos países que se envolveram decisivamente na segunda Grande Guerra mundial: Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Itália, França, Rússia e Polônia.)

Mas tentemos interpretar o versículo em destaque, no qual chama a atenção o “livrinho” que o Anjo segurava em sua mão. Naqueles dias recuados no tempo, João anunciava, conforme o alcance de sua visão mediúnica permitia, a disseminação do Cristianismo e do Evangelho de Jesus sobre terras do Velho Mundo e além dos mares. Recordamos que a “descoberta” do Novo Mundo, na Idade Média, deu-se sob as bênçãos da Igreja, desejosa de expandir sua influência sobre outros povos, em aliança com os mais poderosos reinos europeus, a fim de consolidar o domínio da fé, assim plantando a cruz em terras “selvagens” quais o futuro Brasil, por exemplo.

Identificamos aí a sequência do planejamento espiritual em favor da Humanidade explicitado no chamado amoroso de Jesus: “Vinde a mim todos vós que estais sobrecarregados e aflitos!” (Mateus 11:28), que Emmanuel explica admiravelmente no capítulo 130 do livro Pão Nosso (*). Reconhecemos que a disseminação das luzes do Evangelho constitui o projeto de cristianização em curso no planeta, antecedendo o momento glorioso da cristificação dos homens comprometidos com o ideal do Cristo. Será conosco, um dia, o que se operou no doutor da lei Saulo de Tarso que, após conhecer a dimensão dos ensinos de Jesus, transformou-se ao ponto de mudar de nome e de vida, exclamando, enfim, que já não era ele que vivia - “É o Cristo que vive em mim!”

Entendemos que o processo de cristianização corresponde ao conhecimento e à assimilação dos conceitos da doutrina de Jesus que o evangelista Lucas batizou de Cristianismo, enquanto a cristificação se refere à plena vivência desses conceitos revolucionários, porquanto, evoluídos e chegados ao patamar de Espíritos Puros, seremos outros cristos chamados a pastorear outras ovelhas. As revelações espirituais, assim, não são meros episódios para o encantamento dos fiéis seguidores dessa ou daquela religião, mas recursos que Deus nos envia para o necessário despertamento da consciência de seu sono milenar, razão pela qual nos demoramos na contemplação das ilusões do mundo.

Outra coisa a observar no relato do autor do Apocalipse é a referência aos quatro elementos constituintes da vida material – terra, água, ar e fogo –, que também servem de analogia para explicar a realidade do Espírito imortal. É forçoso reconhecer que trazemos no corpo material a presença desses elementos todos, sendo o fogo o símbolo da própria alma, cuja ligação com o organismo imprime a força vital para que se executem todos os movimentos necessários ao bom cumprimento das tarefas que nos trouxeram ao mundo.

(*) “Onde estão?”; psicografia de Chico Xavier, ed. FEB (Coleção Fonte Viva).


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