Esta data no Evangelho (1 de fevereiro)

Francisco Muniz // 





O primeiro versículo do segundo capítulo da Epístola de Paulo aos Hebreus traz a “Exortação” como epígrafe e é seu teor que comentaremos neste dia 1 de fevereiro, dando prosseguimento ao estudo de temas do Novo Testamento. Neste estudo, como já explicado, nós utilizamos a Bíblia de Jerusalém e nos valemos da interpretação da Doutrina Espírita acerca dos textos evangélicos. Eis o assunto de hoje: 

“Pelo que, importa observemos tanto mais cuidadosamente os ensinamentos que ouvimos para que não nos transviemos.” 

Com a expressão “pelo que”, colocada como aposto, Paulo, o apóstolo dos gentios, indica a causa ou motivo da alocução seguinte, falando dos cuidados que devemos ter após ouvirmos (até então, todo o ensinamento era basicamente oral e os escritos serviam de recurso recordatório) os ensinos que vão garantir nossa manutenção ou permanência no caminho do aprendizado. E esse motivo é a descrição que ele faz da grandeza do Cristo, o “Filho de Deus encarnado”, demonstrando que “o Filho é superior aos anjos”, porquanto nas Escrituras o próprio Deus dos judeus o exalta, fazendo Paulo perguntar, antes de concluir com o verso que presentemente abordamos: “Porventura, não são todos eles [os anjos] espíritos servidores, enviados ao serviço dos que devem herdar a salvação?” 

Com sua observação, o Apóstolo revela o quanto é fácil nos desviarmos do “caminho da salvação”, voltando a delinquir mesmo após termos ouvido as admoestações dos líderes religiosos – padres, gurus, pastores... O próprio Jesus apontou esse problema, avisando que “aqueles que dizem Senhor! Senhor! não entrarão todos no reino dos céus; mas somente entrará aquele que fez a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mateus 7:21 a 23). Séculos mais tarde, Allan Kardec retomaria esse assunto, de modo a questionar os Espíritos Superiores sobre como reconhecer os verdadeiros adeptos do Espiritismo (*), posto muitos terem se desviado, assim como houve defecções no Cristianismo. 

A esse respeito, os Espíritos informaram ao Codificador, em O Livro dos Espíritos, que nós, os homens, esquecemo-nos muito facilmente do que ouvimos acerca da vontade de Deus, mesmo que essa vontade, na forma das leis divinas, esteja gravada em nossa consciência. Se fôssemos um pouco mais atentos, em pouco tempo veríamos realizado nosso progresso espiritual, o qual, segundo nos dizem os condutores desencarnados da Humanidade, é muito lento em relação à contraparte material. Mas cabe à Doutrina Espírita, que nos revive o Cristianismo primitivo em sua mais pura essência, fazer-nos recordar as lições de Jesus e envidarmos os esforços necessários para praticar cada uma delas. 

O que Paulo propõe, portanto, é que nos mantenhamos constantemente exercitando a memória quanto ao imorredouro ensinamento do Cristo, para não precisarmos mais sofrer a inevitável (na maioria dos casos) repetição dessas lições. Em seu livro Ação e Reação (**), o Espírito André Luiz diz, colocando a frase na boca de um de seus instrutores, que somos gotas de realização num oceano de palavras, daí a necessidade de refrearmos os impulsos da língua e da irreflexão para meditarmos um pouco mais sobre o que fazemos e o que precisamos de fato fazer para melhorarmos nossa condição sofrível. Só assim permitiremos que os Amigos espirituais, falando-nos pela voz inaudível da consciência, possam nos auxiliar na caminhada para frente e para o alto! 

(*) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX (Trabalhadores da última hora), item 4 das Instruções dos Espíritos (Missão dos espíritas). 
(**) Psicografia de Francisco Cândido Xavier; ed. FEB.

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