Francisco Muniz //
Aberta a Bíblia de Jerusalém neste dia 9 de janeiro, ofereceu-se
para nosso estudo em torno de temas do Novo Testamento o Evangelho de Lucas, de
forma que buscamos o versículo 9 do primeiro capítulo para os comentários que
faremos hoje, sob a inspiração da Doutrina dos Espíritos:
“(...) coube-lhe por sorte, conforme o costume
sacerdotal, entrar no Santuário do Senhor para oferecer o incenso.”
Contextualizemos, para ao menos conhecermos o que se esconde
nas reticências entre os parênteses. Lucas se refere ao “Nascimento e vida
oculta de João Batista e de Jesus” – título da primeira parte de sua narrativa.
E o versículo destacado é complemento da parte em que ele relata como se deu a
geração do futuro Batista, falando das dificuldades enfrentadas pelo sacerdote
Zacarias e sua esposa Isabel, os quais eram idosos e não tinham filhos: “Ora,
aconteceu que, ao desempenhar ele [Zacarias] as funções sacerdotais diante de
Deus, no turno de sua classe (...) Toda a assembleia do povo estava fora, em
oração, na hora do incenso.”
Médium, como todos o somos, segundo o conceito de Allan
Kardec (1), Zacarias vê o “Anjo do Senhor” (o mesmo Gabriel que faria mais
tarde o anúncio do nascimento de Jesus a Maria), reagindo como a maioria de nós
ante a aparição de um Emissário do Alto de elevada hierarquia: “Ao vê-lo, Zacarias
perturbou-se e o temor apoderou-se dele.” O Anjo, porém, o aquieta e dá seu
recado, informando-o da breve chegada do menino, ao qual ele deveria dar o nome
de João, afirmando se tratar de um Espírito com uma elevada missão perante os
homens – e impôs ao velho sacerdote uma disciplina para que ele acreditasse no
que dizia: ficaria mudo até o dia do nascimento.
Mas fiquemos com o texto do versículo selecionado, que nos
permite fazer algumas analogias interessantes. Levemos em consideração que
somos todos sacerdotes quando nos fechamos em nosso quarto secreto e oramos
secretamente a Deus, conforme o Cristo nos ensinou, deixando lá fora todas as coisas
mundanas. O incenso do texto é o sentido da oferta que fazemos nesse momento de
confabulação íntima com o Criador, purificando a alma e o coração através dessa
conversa sincera, ainda que veiculando, direta ou indiretamente, um interesse
qualquer, porque constantemente nos vemos cheios de necessidades.
E Deus, que atende a cada um desses pedidos de acordo com o
merecimento de seus autores, envia a resposta, o lenitivo, a misericórdia
através de um Emissário celestial que às vezes se permite ver, para fortalecer
o empenho da pessoa em questão quanto à certeza ou resignação ante a vontade do
Altíssimo. Ressalta-se a verdade de há muito conhecida e que os Espíritos
Superiores reforçam em O Livro dos Espíritos (2): todos nós contamos com
o beneplácito de um Anjo Guardião a quem a Bondade Divina nos confiou e que
ficará ao nosso lado, cumprindo sua tarefa abnegada, até que nos tornemos anjos
também, porquanto a jornada evolutiva do Espírito imortal começa no átomo (a
mônada primordial que anima o princípio espiritual) e segue até a angelitude.
Voltando a Zacarias, o povo do lado de fora admira-se de sua
demora no Santuário e quando por fim o sacerdote retorna dá mostras de que não
pode falar – o que se passa numa sala mediúnica é tão secreto como o que se
verifica no confessionário, de modo que se exige discrição por parte dos
médiuns. No entanto, as lições decorrentes do contato e do intercâmbio
espiritual devem ser disseminadas e, sobretudo, aprendidas – assimiladas e
vivenciadas por quem as recebeu.
Notas
(1) Ver O Livro dos Médiuns, Capítulo XIV – Dos
médiuns.
(2) Questões 489 e seguintes.
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