Francisco Muniz //
A Epístola de São Judas (o título se deve ao fato de
adotarmos a católica Bíblia de Jerusalém), dirigida “aos que foram
chamados, amados por Deus e guardados em Jesus Cristo”, não é capitulada, a
exemplo das duas últimas Cartas do apóstolo João, de modo que se apresenta como
tendo um só capítulo, do qual retiramos o versículo 8, correspondente a este
dia 8 de janeiro, para fundamentar nossos comentários:
“Ora, estes agem do mesmo modo: na sua alucinação
conspurcam a carne, desprezam a Autoridade e injuriam as Glórias.”
Eram dois Judas no Colégio Apostolar de Jesus: o Iscariotes,
tido como o traidor, e Judas Tadeu, o autor desta Carta que exorta os fiéis a
se precaverem contra “(...) uns ímpios, que convertem a graça do nosso Deus num
pretexto para licenciosidade e negam Jesus Cristo, nosso único mestre e Senhor”.
São “falsos doutores”, que certamente experimentarão, por seus atos, “o castigo
que os ameaça” por conta das “suas blasfêmias”, agindo, segundo o apóstolo, de
modo semelhante ao que fora observado “em Sodoma, Gomorra e cidades vizinhas,
por se terem prostituído (...) e foram postas como exemplo, ficando sujeitas ao
castigo de um fogo eterno”.
É natural que Judas se valha das imagens fortes alusivas ao
Deus violento e cruel do Velho Testamento, tal como Jesus, algumas vezes,
valeu-se desse tom ameaçador em suas admoestações principalmente aos incrédulos
escribas e fariseus. O autor da missiva se dirigia, portanto, a israelitas
conhecedores da Lei moisaica e familiarizados com a história dos antepassados e
deviam mesmo recordar horrorizados do acontecido às famosas cidades destruídas
numa explosão provocada pela “ira do Senhor”. E a causa desse “castigo” era o
que ainda hoje se observa, posto que a história se repete em ciclos para nosso
aprendizado e teimamos em nos manter indiferentes, desprezando o chamado ao
arrependimento que nos possibilita mudar o comportamento e dar um passo no
caminho do crescimento espiritual.
No relato de Mateus, o capítulo 3 trata da “Pregação de João
Batista”: “Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia e
dizendo: ‘Arrependei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo’”. Alguns de
nós, desde então, nos arrependemos e mudamos de vida já naquele momento mesmo,
enquanto outros demoraram para tomar o caminho do melhoramento íntimo, ficando
entregues aos maus costumes de sempre. É que, conforme nos dizem os Espíritos Superiores em O Livro dos Espíritos (*), o progresso espiritual não
acompanha sempre o progresso material, daí essa espantosa diversidade
comportamental observada na espécie humana, em que o mal prepondera sobre o bem,
causando inúmeros infortúnios graças à indiferença de uns e à ignorância de
outros, incapazes de enxergar a própria miséria moral.
São os indiferentes, é bom convir, que corrompem os
ignorantes, em suas relações doentias, porquanto estes, desconhecedores do
caminho a percorrer, aceitam a primeira mão estendida, sem condições de ver que tal mão é a de feras mal intencionadas que desprezam a Autoridade divina,
injuriando assim os poderes celestiais. São os falsos profetas que desde a
Antiguidade agem como lobos famintos junto a cordeirinhos incautos, não somente
na esfera religiosa, mas em toda parte onde possam obter vantagens pessoais,
desconhecedores, por sua vez, da lei do retorno que regula o uso do livre
arbítrio. Assim é que, pela reencarnação, instrumento infalível da Justiça
divina, receberão o contributo misericordioso a que façam jus, experimentando
situações aflitivas até que, curvando a cerviz para o chão, arrependam-se
perante Deus e implorem suas graças...
(*) Tratado de filosofia espiritualista em que Allan Kardec
delineia os princípios da Doutrina Espírita.
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