Esta data no Evangelho (4 de janeiro)

Francisco Muniz // 




O precioso conselho do evangelista João se oferece aos comentários que faremos hoje, dia 4 de janeiro, no âmbito de nosso estudo de temas do Novo Testamento sob a luz meridiana da Doutrina Espírita. O texto é o do primeiro versículo do capítulo 4 da Primeira Epístola de João, que na Bíblia de Jerusalém é posto sob a epígrafe “Terceira condição: preservar-se dos anticristos e do mundo”:

“Caríssimos, não acrediteis em qualquer espírito, mas examinai os espíritos para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas vieram ao mundo.”

Quando o Cristo prescreveu conhecermos a verdade para que a verdade nos liberte, isto deve ser aplicado em todos os sentidos, isto é, nas duas dimensões da vida: a material, ou humana, e a espiritual, porquanto a recomendação de Jesus diz respeito não apenas aos homens, mas aos Espíritos, estejam eles encarnados ou não. É que estamos todos, encarnados e desencarnados, vivendo em regime de incessante relação, num intercâmbio o mais das vezes inconsciente de nossa parte, de modo que podemos, em alguns momentos, ser meros joguetes da vontade de mentes pouco interessadas em nossa felicidade, ou progresso, ou equilíbrio psicofísico. Por isso o Amigo divino aconselhou que orássemos e vigiássemos constantemente a fim de não cairmos em tentação.

Nessa relação entre os Espíritos encarnados e desencarnados, ou seja, entre “vivos” e “mortos”, há toda uma ciência que precisamos conhecer para estarmos a salvo das más influências, conforme recomenda Allan Kardec, continuando a orientação de Jesus. Uma vez que os desencarnados são os mesmos homens que partiram da Terra, cujo nível evolutivo, maior ou menor, é compatível com a condição moral de cada um, a influência que exercem sobre os encarnados pode ser benéfica ou produzir muitos malefícios. De acordo com Kardec, eles, agindo sobre nossa mente, podem até mesmo conduzir nossa vida (*), de modo que, para nos resguardarmos das insidiosas perseguições que podem dar lugar a obsessões de difícil tratamento, devemos tomar os cuidados necessários.

O aconselhamento do “apóstolo que Jesus amava” é o primeiro desses cuidados, recomendando-nos a prudência ante os pensamentos que nos assaltem a mente e produzam algum incômodo na consciência, instância espiritual onde conhecemos o bem e o mal e que devemos consultar sempre, meditando, antes de tomar qualquer atitude, especialmente aquelas que julgamos importantes. Dizemos, entre nós, na atualidade, que “conhecimento é poder” e isto não é um simples aforisma, mas a consequência da observação do Cristo que deve ser aplicada em nós mesmos para ajudar o próximo, nunca para explorarmos sua ignorância – e é exatamente o oposto dessa recomendação o que fazem os Espíritos malévolos, porquanto conhecem nossos pontos fracos e os exploram com pertinácia.

Enquanto escrevo, ouço a música que imortalizou Vicente Celestino, “O ébrio”, que conta uma história emblemática de um episódio obsessivo, fazendo-nos considerar que podemos passar por tais experiências até conhecermos a verdade que nos tornará mais ou menos infensos às influências nefastas. Esse conhecimento pode vir através do estudo do Espiritismo, Doutrina que revela-nos o que somos, por que o somos e o que fazer para que melhoremos, modificando nossas tendências inferiores, chegando, enfim, ao para quê de nossa existência momentânea na dimensão material em que ora estagiamos. Se é um estágio, é para provarmos o que já adquirimos em sabedoria e também para conquistarmos mais méritos para o futuro, sendo cada vez melhores discípulos e auxiliares do Cristo.    

(*) Ver a questão 459 e seguintes de O Livro dos Espíritos.   


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