Esta data no Evangelho (30 de janeiro)

Francisco Muniz // 




No primeiro capítulo de sua Epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo começa, após as recomendações iniciais, sua tese de “salvação pela fé”, enunciando a justificação e retratando os gentios e os judeus sob a ira de Deus. Nesta data, 30 de janeiro, nossos comentários recaem sobre o versículo 30 desse capítulo, ainda sob a epígrafe “os gentios, objeto da ira de Deus”. Vamos, portanto, ao texto (mais uma vez “quebrado”) apresentado pela Bíblia de Jerusalém:

“(...) caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes, fanfarrões, engenhosos no mal, rebeldes para com os pais (...)”

Inicialmente, compreendamos a “quebra” do texto: os gentios que Paulo exproba são os próprios romanos que, por seu caráter belicoso, reúnem “toda a impiedade e injustiça dos homens que mantêm a verdade prisioneira da injustiça”; “trocaram a glória do Deus incorruptível por imagens do homem corruptível, de aves, quadrúpedes e répteis”; entregando-se, assim, à impureza, a paixões aviltantes, à incapacidade mental de julgar. Ou seja, o apóstolo revela a “heresia” desses homens, o que explicita desde o versículo 18 e enfatiza nos dois versos que antecedem este que ora nos ocupa: “(...) repletos de toda sorte de injustiça, perversidade, avidez e malícia; cheios de inveja, assassínios, rixas, fraudes e malvadezes; detratores (...)”.

Os (des)qualificativos seguem até o verso 32, após o que o ex-doutor da Lei passa a se referir a seus compatriotas judeus. Mas vejamos que Paulo, desenvolvendo sua tese sobre a salvação pela fé, descreve os tipos de pessoas nos quais não há qualquer resquício desse sentimento, uma vez que manifestam um comportamento diametralmente oposto àquele vinculado à vontade de Deus, expressa no Decálogo. E não foi porque desconhecessem a Divindade que passaram a agir de modo herético, mas porque “trocaram a verdade de Deus pela mentira e serviram a criatura em lugar do Criador, que é bendito pelos séculos” (Romanos 1:25).

De acordo com Allan Kardec, a ideia de Deus é inata no homem (*) e tal pressentimento o leva quase instintivamente à adoração, primeiro pelas sensações e manifestações físicas, até sublimá-las através do mais puro sentimento, correspondendo às efusões próprias do amor universal, incondicional e ilimitado. Jesus, a quem Paulo servia, veio nos apresentar essa feição do amor que supera as mais básicas noções humanas acerca dos sentimentos que sustentam as relações entre as pessoas, como a própria noção de família.

É como diz o Espírito Lázaro em O Evangelho Segundo o Espiritismo (**): “O amor resume inteiramente a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimento são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu início, o homem não tem senão instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o ponto delicado do sentimento é o amor (...)”

Ora, ao tempo de Jesus e de Paulo, os homens, em sua grande maioria na Terra, eram ainda fortemente marcados pelas atitudes grosseiras características da condição material. O Cristo ensinou-nos como praticar a Lei de Amor, cujo entendimento fora deturpado, do mesmo modo como hoje o Espiritismo vem nos fazer recordar a essência dos ensinamentos do Mestre nazareno. É este, porém, um aprendizado muito lento e caminhamos na direção do progresso moral entre as manifestações de fé, ou religiosidade, e heresia, porquanto ainda não conseguimos optar integralmente por Deus, levando oferendas também ao altar de Mamom...

(*) Ver O Livro dos Espíritos.

(**) Cap. XI, Instruções dos Espíritos, item 8.


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