Esta data no Evangelho (29 de janeiro)

Francisco Muniz //




Hoje, dia 29 de janeiro, vamos ao Evangelho de João, onde o versículo 29 do primeiro capítulo nos convida ao comentário desta data, dando continuidade ao nosso estudo de temas do Novo Testamento. É a primeira parte do livro, intitulada “O anúncio da nova economia”, tratando da “semana inaugural” do ministério de Jesus, e o texto que abordaremos traz por epígrafe “O testemunho de João”. Ei-lo:

“No dia seguinte, ele vê Jesus aproximar-se dele e diz: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo’.”

(Atento à beleza das palavras, admiro a sonoridade da expressão usada pelo Batista quando pronunciada em latim: “Agnus Dei qui tollit peccata mundi”...)

A figura do Cordeiro é recorrente na Bíblia, desde as antigas profecias até as visões apocalíticas do evangelista João, autor de que ora nos ocupamos. É o símbolo máximo da humildade que o Cristo, na personalidade de Jesus, tão bem soube manifestar, dando-nos o exemplo de como devemos nos comportar no mundo a fim de merecermos os acréscimos de misericórdia por parte da Divindade. É, também, o símbolo máximo do sacrifício que o Espírito em demanda do Reino dos Céus deve realizar em si mesmo, desapegando-se das ilusões do ego que limita sua realidade à dimensão enganadora do mundo. E o Cordeiro, imagem da mansuetude, é o próprio Cristo, conforme ele se apresenta a seus discípulos desde há mais de dois mil anos: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mateus 11:29).

Embora os homens ainda nos afeiçoemos aos símbolos e eles guardem significados importantes, convém notar que a Doutrina Espírita despreza-os, caracterizando-se pela simplicidade das palavras a fim de facilitar o entendimento dos conceitos apresentados. Allan Kardec, desde o início, isto é, desde O Livro dos Espíritos, preferiu, inspirado pelos Espíritos Superiores, trilhar o caminho da objetividade, para que seu pensamento atingisse os fins propostos: “Para coisas novas precisamos de palavras novas; assim o exige a clareza da linguagem, para evitarmos a confusão inerente ao sentido múltiplo dos mesmos termos” (*). E essa confusão nós a percebemos facilmente nos termos evangélicos, daí a complexidade das interpretações.

No versículo estudado, vemos Jesus aproximar-se de João, sendo reconhecido e com justeza identificado como aquele que vem da parte de Deus. É claro, sendo primos e mutuamente conhecedores da tarefa que os trouxe ao mundo, um sabia da condição do outro, como bem informa Humberto de Campos em Boa Nova (**). No entanto, deixemos esse dado de parte e coloquemo-nos no texto, nas circunstâncias atuais de nossa vida: o Cristo se nos aproxima – conseguimos identificá-lo a contento, submetendo-nos às suas doces ponderações capazes de revolucionar nosso ser integralmente, ou retrocedemos, fugindo, fechando-nos em nós mesmos, qual se fôssemos dessas plantinhas sensitivas?

Em nosso livro O Chamado (***), a amiga espiritual Irmã Rafaela refere, na mensagem que dá título ao livro, o episódio em que um homem recebe a visita do Senhor e, não compreendendo a razão disso, opõe mil obstáculos até reconhecer a intenção do Mestre. Reconhecendo a própria condição inferior como motivo principal daquela aproximação, o homem, observando em si mesmo as consequências dos erros cometidos, que lhe enfermavam a alma, rende-se enfim, exclamando: “Oh, Senhor, cura-me então! Eu te peço – e te dou minha enfermidade, minha alma enferma para que a cures!...”  

(*) O Livro dos Espíritos, Introdução.

(**) Psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB.

(***) Edição do autor, Salvador, 2013.


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