Francisco Muniz //
Aberta a Bíblia de Jerusalém no Evangelho de Lucas, o
capítulo 28 do primeiro capítulo, colocado sob a epígrafe “A anunciação”, apresenta-se
para os comentários deste dia 28 de janeiro, em continuação de nosso estudo de
temas do Novo Testamento. Eis o texto, que abordaremos de acordo com as luzes
do Espiritismo:
“Entrando onde ela estava, disse-lhe: ‘Alegra-te, cheia
de graça, o Senhor é contigo!’”
Sabemos, por informações prévias, que Lucas fala da presença
do Anjo Gabriel nos aposentos de Maria, a jovem nubente à qual seria dada a
missão sublime de abrigar em seu ventre o corpo em gestação do futuro Messias. A
expressão “O Senhor é contigo” usada pelo Anjo é o indicativo da gravidez e por
tal razão era Maria “cheia de graça”, isto é, todo o poder criador de Deus se
realizava nela naquele intraduzível momento de extrema felicidade e por isso
devia a jovem se alegrar. Maria representava, naquele instante sagrado, todas
as mulheres que, atentas ao papel de cocriadoras da Vida, respondem
afirmativamente à vontade do Altíssimo e se deixam servir de instrumento da
perpetuação da espécie humana na Terra.
Era anunciado o advento do Senhor. Jesus viria e sua tarefa
missionária incluiria também a exaltação da mulher, até então e durante muito
tempo oprimida, tratada com subalternidade pela visão estreita do homem que
exercia seu domínio pela força bruta, incapaz de reconhecer em sua companheira
a colaboradora que a Divina Providência lhe dera para a boa execução de seus
deveres no mundo. Pois ambos, o homem e a mulher, têm deveres comuns, tais a
formação da família e o cuidado da prole, por exemplo, que somente pela cooperação
mútua podem ser bem desempenhados, ganhando amplo sentido a máxima “já não
serão dois, mas uma só carne”, sublimando a união dos sexos.
Após Jesus, o Cristo de Deus, é papel do Espiritismo fazer-nos
recordar os ensinamentos e exemplos deixados pelo Mestre de Nazaré e a esse
respeito convém notar a representação feminina no desenvolvimento das ideias e,
principalmente, da ação caritativa no seio do movimento espírita. O sentimento
feminil, manifestado pelo instinto materno, impregnou a Doutrina codificada por
Allan Kardec, mostrando como os homens deveriam, agora, refazer sua caminhada
para Deus. É o Espírito João, o Evangelista, quem o afirma em mensagem no
Capítulo VIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo (*): “Jesus queria
que os homens viessem a ele com a confiança desses pequenos seres de passos
vacilantes, cujo chamamento lhe conquistaria o coração das mulheres, que são
todas mães (...)”.
Todas as mulheres, portanto, são Maria e a Mãe Santíssima
está representada por cada mulher que, enobrecendo a maternidade que lhe é
atributo divino, abraça a vida em todas as manifestações, encaminhando ao colo
da Divindade as almas sob seus cuidados, especialmente aquelas desatentas ou
desviadas do Caminho. Para quem, como eu, gosta de fazer malabarismos com as
palavras, é extremamente gratificante descobrir que a expressão Santa Maria,
reveladora da condição da Mãe de Jesus entre nossos irmãos católicos, pode,
desde que rearrumemos suas letras, transformar-se na palavra Samaritana,
explicitando que tipo de coração, na Terra, melhor se adequa ao conceito
exposto pelo Cristo para representar um modelo de caridade, conforme dito na
Parábola do Bom Samaritano.
(*) Instruções dos Espíritos, item 18: “Deixai vir a mim as
criancinhas”.
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