Francisco Muniz //
A Epístola de Tiago é a fonte do assunto que vamos comentar
hoje, dia 26 de janeiro, em prosseguimento a nosso estudo de temas do Novo
Testamento. Assim, da Bíblia de Jerusalém retiramos o versículo 26 do
primeiro capítulo dessa Carta enviada “às 12 tribos da Dispersão”, que está sob
a epígrafe “Receber a Palavra e pô-la em prática”. Eis o texto:
“Se alguém pensa ser religioso, mas não refreia a sua
língua, antes se engana a si mesmo, saiba que a sua religião é vã.”
Há cinco dias, festejou-se no Brasil o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, efeméride que, segundo pensamos, faz eco às palavras do
apóstolo Tiago nessa carta. Trata-se do irmão de João, o evangelista,
considerado o apóstolo de Jesus mais afeito ao Judaísmo, mais até que Mateus,
que tinha escrúpulos em citar o nome de Deus, preferindo citar a expressão “Reino
dos Céus”. Consideremos, no entanto, que os seguidores do Messias sofreram
grandes e intensas perseguições e, embora fossem judeus, eram anatematizados
por simpatizarem com as ideias revolucionárias do Cristo. Conta a história que,
principalmente na capital do Império Romano, os cristãos, temendo represálias,
não revelavam publicamente sua condição religiosa e se identificavam uns perante
os outros através da figura representativa de um peixe.
Tiago, no entanto, escreve “às doze tribos da Dispersão”, ou
seja, aos judeus, e suas palavras têm o tom de admoestação em razão do
comportamento farisaico de se perseguir os discípulos do Mestre nazareno, em
manifesta intolerância religiosa baseada no fundamentalismo, na falsa ideia de que
“minha religião é melhor que a sua”. Ou de que “não pode haver outra religião
senão a minha”. O apóstolo missivista pede, muito mais do que compaixão a quem
pensa diferentemente do “status quo”, isto é, do padrão estabelecido, o autoexame
de consciência quanto à validade religiosa de incomodar-se com a fé alheia,
porquanto quem assim age no mínimo despreza os princípios de sua própria
religião, uma vez que a finalidade de todas elas é encaminhar o homem a Deus.
Na questão 654 de O Livro dos Espíritos, referente à
Lei de Adoração, Allan Kardec pergunta se “Deus tem preferência pelos que o
adoram desta ou daquela maneira?”, sendo informado pelos Espíritos Superiores
que “Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo
o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que não os
tornam melhores para com os seus semelhantes (...) É hipócrita todo aquele cuja
piedade é apenas aparente. Dá mau exemplo aquele cuja adoração é falsa e está
em contradição com a própria conduta”.
O modo como se professa uma religião é algo íntimo,
vinculado ao sentimento de religiosidade. Por essa razão, Chico Xavier dizia,
falando para os arraiais da Doutrina dos Espíritos, que na Casa Espírita se
vive o Espiritismo prático, preconizando o intercâmbio com os desencarnados,
mas no ambiente externo deve-se vivenciar a prática do Espiritismo, que é a
disseminação das ações de caridade junto aos encarnados. É nesse momento que
precisamos refrear a língua, não perguntando quem é o outro a quem ajudamos, em
que ele acredita, porque tudo quanto interessa é nos tornarmos instrumentos de
Deus e do Cristo na atenção que devemos a cada um dos pequeninos do Pai que
atravessa nosso caminho com suas necessidades a preencher.
Porque, afinal de contas, “todos os homens são irmãos e
filhos de Deus. Ele chama a si todos os que seguem suas leis, qualquer que seja
a forma pela qual se exprimam. Aquele que professa adorar o Cristo, mas que é
orgulhoso, invejoso e ciumento, duro e implacável para com o próximo, ou ambicioso
dos bens deste mundo, eu vos declaro que só tem a religião nos lábios e não no
coração” (*).
(*) O Livro dos Espíritos, q. 654.
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