Francisco Muniz //
O que se admira como sendo sabedoria dos homens pode estar
muito longe de sê-lo, equiparando-se ao conceito de loucura, se a base dessa
sabedoria não admite a participação de Deus. Tal reflexão vem da leitura do
versículo 25 do primeiro capítulo da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios,
que servirá para os comentários que faremos hoje, dia 25 de janeiro, no âmbito
de nosso estudo de temas do Novo Testamento. Eis o texto, colhido na Bíblia
de Jerusalém:
“Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os
homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.”
Somos informados pela Doutrina Espírita que os Espíritos são
o princípio inteligente do Universo. Criados por Deus, eles recebem o influxo
da Lei de Evolução e, partindo de um ponto zero, desenvolvem-se até alcançarem
o objetivo máximo para o qual se dirigem desde o início: a angelitude. Um dia
todos nós seremos anjos, como canta o compositor pernambucano Nando Cordel. Mas
esse objetivo será logrado quanto mais usarmos proveitosamente nossa
inteligência, ampliando-a a cada experiência reencarnatória, demonstrando o
aprendizado feito.
As palavras de Paulo são uma espécie de defesa de sua
atuação em nome do Cristo, na disseminação da Boa Nova, afrontando os perigos
do caminho e a incompreensão dos homens que o acusavam de louco, condição esta
que, no entendimento dos “sábios” do mundo, atesta fraqueza mental ou de
espírito. Ao seu tempo, também Jesus sofreu semelhantes epítetos, sem jamais
recusar-se à tarefa que o trouxe à face escura do planeta, caracterizada pelas
trevas da ignorância daqueles que, muito contentes com o pequeno conhecimento
adquirido, nem mesmo se davam o beneplácito do autoquestionamento perante as
novas informações que lhes chegavam da parte de Deus.
Como se depreende, Deus, que é tanto o Criador quanto o eterno Provedor,
é quem nos suscita as manifestações de inteligência, deixando-nos, porém, o
livre arbítrio como guia de nossa liberdade de ação, conduzindo-nos as
escolhas. Os emissários divinos, no entanto – sendo o Cristo o maior deles –têm
vindo seguidamente à Terra para nos exortar o bom uso dos recursos que a
Providência nos dispõe para que saibamos criar as condições de nossa felicidade
a qualquer tempo. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (*), o Espírito
Ferdinando salienta que “a inteligência é rica de méritos para o futuro, com a
condição de ser bem empregada (...) infelizmente, muitos fazem dela um
instrumento de orgulho e perdição para si mesmos”.
Já comentamos aqui, algures, sobre esse assunto, reparando
que o Espírito Emmanuel, que foi o mentor espiritual do médium Francisco (Chico)
Cândido Xavier, deixou grafado em livro (**) que, dentre todas as atividades que
realizamos no mundo, a mais importante é a tarefa religiosa. Isso quer dizer
que precisamos estar sempre perto de Deus, não apenas através das preces que
costumeiramente fazemos, mas principalmente cumprindo as determinações
evangélicas, especialmente aquela que nos recomenda perdoarmos incondicionalmente
a todos que nos tenham de alguma forma ofendido. Abdicar desse comportamento é
optarmos deliberadamente pela loucura.
Se somos chamados a viver de acordo com o que queremos
experimentar no futuro, observando que a semeadura é livre e a colheita,
obrigatória, é mais inteligente adotarmos as medidas que nos garantam o que
chamamos de felicidade. E a tal respeito o comportamento de Paulo, repetindo as
determinações do Cristo, chegam para nós como um parâmetro importantíssimo.
(*) Cap. VII, item 13.
(**) Ver Caminho, Verdade e Vida, ed. FEB.
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