Esta data no Evangelho (24 de janeiro)

Francisco Muniz // 




Na segunda parte de seu Evangelho, Marcos aborda “O ministério de Jesus na Galileia” e é de lá que a Bíblia de Jerusalém nos oferece o versículo 24 do primeiro capítulo para os comentários que faremos hoje, dia 24 de janeiro. Assim, sob a epígrafe “Jesus entra em Cafarnaum e cura um endemoninhado”, o texto que enriquece nosso estudo de temas do Novo Testamento é este:

“(...) dizendo: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és: o Santo de Deus”.”

Vamos lá: é um texto que aparece “quebrado”, conforme indicam as reticências dentro dos parênteses e, em nome do bom entendimento contextual, precisamos ver e saber o que elas escondem. Com efeito, assim como informa a epígrafe, o versículo 21 diz que “entraram [Jesus e seus seguidores] em Cafarnaum e, logo no sábado, foram à sinagoga. E ali ele ensinava. Estavam espantados com o seu ensinamento, pois ele os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. Na ocasião, estava na sinagoga deles um homem possuído de um espírito impuro, que gritava (...)”.

Focalizemos, agora, o texto que nos cabe comentar, representativo do intercâmbio mediúnico, isto é, da possibilidade que têm os Espíritos, os chamados “mortos”, de se comunicarem com os homens, os chamados “vivos”; as palavras de Marcos também indicam que determinados Espíritos podem prejudicar os encarnados, dadas sua condição inferior e sua ação maléfica. No entanto, essa entidade malfazeja reconhece o Filho do Homem e o chama pelo nome, pressentindo o que aconteceria estando em presença do Cristo, a quem chama de “o Santo de Deus”.  

Recordemos, porém, o que o evangelista afirma quanto ao modo como Jesus ensinava aos judeus de Cafarnaum, demonstrando sua autoridade de Mestre, isto é, de exímio conhecedor das leis e das Escrituras somado à sua superioridade moral, e compreenderemos o receio indignado do Espírito obsessor, que efetivamente é “expulso” da esfera de constrição daquele homem. É, como todo relato acerca da vida e das realizações de Jesus, uma lição para seus discípulos tanto naquele momento quanto no futuro, em todas as épocas, de modo que hoje, orientados pela Doutrina Espírita, que dá prosseguimento aos ensinos do Mestre, temos condições para agir com competência, desenvolvendo nosso potencial mediúnico ou medianímico.

No versículo, é bom frisar, é o Obsessor quem toma a palavra, dirigindo-se diretamente ao Rabi nazareno, significando que ele não foi evocado, isto é, chamado àquela reunião: ele se oferece, como se sua presença fosse (e era!) necessária para exemplificar o ensinamento de Jesus naquele momento e demonstrar sua efetiva autoridade e condição de Santo de Deus. Sobretudo, esse episódio valida a metodologia utilizada pelas Casas Espíritas no exercício da mediunidade, quando não mais se evocam os Espíritos, ao contrário da época de Allan Kardec, ocasião em que a nova ciência dava seus primeiros passos e era necessário saber dos Espíritos como os médiuns deviam proceder.

Agora, temos, além das lições e exemplos de Jesus, também as orientações espíritas, por legado de Kardec e dos Espíritos que o assessoraram na realização da grande obra que é o Espiritismo, a fim de pavimentar o caminho que hoje trilhamos com toda segurança. Esse legado é representado pelo chamado pentateuco (*) kardequiano, do qual se destaca O Livro dos Médiuns, o tratado de ciência espírita por excelência que todo aprendiz do Espiritismo deve não só consultar, mas estudar, meditando profundamente os ensinamentos ali contidos.

(*) Conjunto de cinco obras escritas, em referência aos cinco primeiros livros da Bíblia, de autoria de Moisés. O pentateuco espírita se constitui de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.


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