Francisco Muniz //
Vem dos Atos dos Apóstolos, livro escrito pelo evangelista
Lucas, o assunto do comentário que faremos hoje, dia 23 de janeiro, dando
prosseguimento ao estudo de temas do Novo Testamento. Desse modo, na Bíblia
de Jerusalém recolhemos o texto do primeiro versículo do capítulo 23, a
seguir:
“Fixando os olhos no Sinédrio, Paulo assim falou: ‘Irmãos,
é inteiramente em boa consciência que eu me tenho conduzido perante Deus, até o
dia de hoje’.”
Assim como foi com o Cristo, o Apóstolo dos Gentios também
sofreu a acusação dos judeus, foi preso pelos romanos e por fim levado ao Sinédrio
(*), perante o qual se justifica, invocando o nome de Deus e argumentando sua
antiga condição de doutor da lei e fariseu. Assim como ao Cristo, queriam
também matá-lo, mas a história de Paulo devia ser mais extensa e, por ser cidadão
romano, os sacerdotes, especialmente os saduceus, não prevaleceram sobre ele.
No Sermão da Montanha, discurso de Jesus considerado o
próprio coração ou alma do Evangelho, o Mestre diz, dentre outras coisas, que
são “bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque
deles é o Reino dos Céus” (Mateus 5:10). A causa da justiça é exatamente
nosso compromisso com o Cristo, o que durante muito tempo foi motivo de
perseguição, condenação e morte, numa época em que as trevas da ignorância
grassavam muito mais perturbadoramente do que hoje, como na Idade Média. Foi
quando a Igreja instituiu uma Cruzada para eliminar os cristãos cátaros na
França; criou a hediondez da Santa Inquisição que levou muitos médiuns à
fogueira sob a acusação de feitiçaria; e autorizou os reis europeus a eliminar
os povos autóctones da América recém-descoberta por não aceitarem a fé católica.
Hoje, é bem verdade, estamos em condições bastante
satisfatórias para professarmos nossa fé e nosso verdadeiro compromisso com
Jesus através do Espiritismo, reconhecendo que o fato de sermos, às vezes,
perseguidos pela lei dos homens se deve a não sermos inocentes perante a lei de
Deus. Se, por um erro judicial qualquer, somos levados aos tribunais e à prisão,
é para quitação dos muitos débitos contraídos junto às soberanas leis, porque,
considerando nosso extenso passado de iniquidades, todos somos culpados. Hoje é
o dia, portanto, em que devemos nos apressar em corrigir os erros cometidos
durante nossa quilométrica jornada reencarnatória, aliviando a consciência e, o
quanto possível, purificando o coração.
Há dois mil anos, o Rabi nazareno já havia vaticinado a
respeito da tarefa de disseminação da Boa Nova, que competia primeiro aos
apóstolos e trabalhadores da primeira hora e na atualidade se estende a todos
os verdadeiros cristãos: “Quando, porém, vos perseguirem num lugar, fugi para
outro; pois com toda a certeza vos asseguro que não tereis passado por todas as
cidades de Israel antes que venha o Filho do homem” (Mateus 10:23). A
expressão “vinda do Filho do Homem” se refere à Terceira Revelação, o advento
do Paráclito, que é o Espírito de Verdade, o Consolador prometido que estará
conosco para sempre, conforme salientou o Messias.
Agora, devidamente esclarecidos e sabedores do que somos chamados
a fazer, a coragem de afrontar o mundo e seu séquito de inferioridades se fará
muito mais incisiva de nossa parte, na atitude correspondente ao salário devido
ao trabalhador fiel. Trabalhamos no presente para construirmos um futuro mais
feliz, de modo que a abnegação, o desprendimento e a caridade sejam o móvel de nossas
ações. Assim é que se cumprirão em nós as palavras do Cristo anotadas em Marcos
10:28-31, na resposta dada ao questionamento de Pedro: “(...) que não receba,
já no presente, cem vezes mais, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e
propriedades, e com eles perseguições; mas no mundo futuro, a vida eterna”.
(*) Tribunal dos antigos judeus, em Jerusalém, composto de
sacerdotes, anciãos e escribas, o qual julgava os assuntos criminais e
administrativos.
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