Francisco Muniz //
Neste dia 21 de janeiro, nosso estudo de temas do Novo Testamento nos leva ao 21º capítulo do Evangelho de João, que é exatamente o epílogo desses escritos, de onde, sob a epígrafe “Aparição à margem do lago de Tiberíades”, retiramos da Bíblia de Jerusalém o primeiro versículo para nossos comentários:
“Depois disso, Jesus manifestou-se novamente aos
discípulos, às margens do mar de Tiberíades. Manifestou-se assim: (...)”
O texto, mais uma vez, aparece quebrado, levando-nos a
descobrir o que se esconde nas reticências entre os parênteses: “Estavam juntos
Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo (*), Natanael (**), que era de Caná da
Galileia, os filhos de Zebedeu (**) e dois outros de seus discípulos”. Era
noite e todos foram pescar, acompanhando a disposição de Pedro; subiram ao
barco, mas não conseguiram apanhar um só peixe. A aparição de Jesus se dá pela
manhã e, estando na praia, pergunta-lhes, sem ter sido reconhecido, se havia
com eles algum peixe. Ante a negativa, determina que lancem a rede à direita do
barco. E assim acontece nova “pesca milagrosa”, após o que João grita ser o
Senhor na praia e Pedro então veste-se e pula nas águas para ser o primeiro a
estar com Jesus.
Ocupemo-nos, agora, das expressões observadas no texto,
esperando tirar delas algumas lições, pela interpretação da Doutrina Espírita.
Vemos, nas palavras de João, a repetição de um fenômeno mediúnico, a aparição
(manifestação) espiritual de Jesus ressuscitado a seus discípulos. Trata-se de
um fato da alçada da ciência espírita, porquanto a ciência ortodoxa, limitada à
pesquisa dos mistérios relacionados à matéria, mantém-se indiferente a tais
episódios, qualificando-os, muitas vezes, de “alucinações”. Allan Kardec,
porém, um homem de ciência, analisou tais fatos a partir das informações
fornecidas pelos próprios Espíritos e foi capaz de conceituar a mediunidade e o
papel dos médiuns na produção desses fenômenos, reunindo suas informações no
compêndio que batizou como O Livro dos Médiuns.
Os Espíritos, de fato, podem se manifestar aos homens, desde
que o queiram e encontrem as condições satisfatórias para isso, tanto parcial,
afetando apenas a vidência, quanto completamente, isto é, de modo tangível,
como o próprio Jesus fez junto a Tomé, no célebre episódio em que o apóstolo
teria vencido sua incredulidade ao tocar nas feridas observadas no perispírito
do Rabi. Ora, do ponto de vista da ciência, isso quer dizer que os Espíritos
podem se tornar visíveis e dar, pela própria vontade, a seu corpo (o
perispírito é a sede desses fenômenos todos) uma tal contextura capaz de torná-lo
como o de uma pessoa “viva”. Vejamos, a esse respeito, a definição de Kardec em
O Livro dos Médiuns (1).
“Pela sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é
invisível, e tem isso de comum com uma porção de fluidos que sabemos existir,
mas que jamais vimos; mas pode também, como certos fluidos, sofrer modificações
que o tornam perceptível à visão, seja por uma espécie de condensação, seja por
uma alteração em sua disposição molecular; é quando nos aparece sob uma forma
vaporosa”. Considerando que “todos os homens são médiuns, em maior ou menor
grau” (Allan Kardec), conclui-se que esses fenômenos são de todos os tempos,
demonstrando tanto a individualidade do Espírito quanto sua comunicação com os
chamados “vivos”, embora somente com o Espiritismo nos tenhamos dispostos a estudá-los.
Notas
(*) “Dídimo”, que aí aparece como apelido de Tomé, significa
gêmeo, em grego, e até hoje não se sabe quem seria o irmão gêmeo de Tomé.
(**) Também chamado de Bartolomeu.
(***) Trata-se do próprio evangelista João e de seu irmão,
Tiago, cognominado “Maior”, posto haver outro no grupo. Um dos outros dois não nomeados devia ser André, irmão de Pedro.
(1) Cap. VI (Segunda parte), item 105.
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