Esta data no Evangelho (20 de janeiro)

Francisco Muniz // 




A Epístola aos Romanos é o documento em que Paulo, o Apóstolo dos Gentios, exalta o poder da fé como instrumento de salvação das almas e é de lá que vem o assunto para nossos comentários de hoje, dia 20 de janeiro. Com efeito, nosso estudo de temas do Evangelho nos leva ao versículo 20 do primeiro capítulo dessa Carta, no qual Paulo trata dos gentios como “objeto da ira de Deus”, sendo esta a epígrafe. Eis o texto:

“Sua realidade invisível – seu eterno poder e sua divindade – tornou-se inteligível, desde a criação do mundo, através das criaturas, de sorte que não têm desculpa.”

Num dos muitos grupos de que participo no Facebook, alguém anuncia a publicação, na Europa (França), de um livro cujo objetivo é “provar a existência de Deus através da ciência”. Que bom, novos ventos sopram sobre a ignorância humana, mostrando que, como diz o título da famosa canção de George Harrison, “all things must pass”, ou seja, tudo passa, ficando só o que é eterno – e de eterno só há Deus e sua criação: o Universo e suas leis sábias e perfeitas, regendo, com sua imutabilidade, tudo o que existe e chamamos de vida, vida esta que a principal criação de Deus, o homem, Espírito imortal, herda para sempre.

É Deus, portanto, o foco do pensamento de Paulo nesse versículo destacado da Bíblia de Jerusalém, no qual o apóstolo revela em magistral síntese que o Criador se manifesta através das criaturas, de sua criação, imagem de que os Espíritos Superiores se valeriam para responder a Allan Kardec a respeito da primeira questão de O Livro dos Espíritos. Após perguntar “Que é Deus?” (q. 1), tirando toda ideia de uma divindade pessoal, o Codificador do Espiritismo indaga (q. 9): “Onde se vê, na causa primeira, uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências?”, para receber esta informação: “Tendes um provérbio que diz: Pela obra se conhece o autor. Pois bem! Vede a obra e procurai o autor. É o orgulho que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si e é por isso que se julga um espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!”

Deus é – e para quem se esclarece a respeito disso já não há dúvida – “a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas” (q. 1) e a prova de sua existência pode ser encontrada “num axioma que aplicais às vossas ciências: não há efeito sem causa” (q. 4), de modo que basta procurar “a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão vos responderá”. Ante tal resposta, Kardec pondera: “Para crer em Deus basta lançar os olhos sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.” É desse modo que Deus aparece, no corpo doutrinário do Espiritismo, como princípio número um, a pedra angular em torno e a partir da qual se estrutura a Doutrina dos Espíritos.

Deus, como disse Paulo, é e se faz inteligível, isto é, racional, pela própria razão de suas criaturas – e a única criatura capaz de se expressar racionalmente é o homem, cuja essência é espiritual e corresponde à própria essência divina, daí a Teologia afirmar que o homem foi criado à imagem e semelhança do Criador. Entretanto, uma parte da mentalidade do homem, em seu aspecto “religioso”, preferiu reduzir Deus a mero artigo de fé, ao passo que outra parte, o aspecto “científico”, quis simplesmente ignorá-lo, afastando-o dos esforços empreendidos para o conhecimento das coisas visíveis, assustando-se quando, nessas pesquisas, observam que o incognoscível é o que se manifesta. E, não faz muito, a Ciência comprovou a existência do “bóson de Higgs” (*), também chamado de “partícula de Deus”.

(*) Partícula subatômica considerada uma das matérias-primas básicas da criação do Universo. Diferente dos átomos, feitos de massa, as partículas de Higgs não teriam nenhum elemento em sua composição.


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