Francisco Muniz //
O primeiro versículo do capítulo 2 do Evangelho de Mateus
traz como epígrafe “A visita dos magos” e oferece o assunto dos comentários que
faremos hoje, dia 2 de janeiro, no prosseguimento de nosso estudo em torno de
algumas passagens do Novo Testamento. A fonte principal dos textos abordados é
a Bíblia de Jerusalém e a de nossa apreciação é a Codificação kardequiana,
objetivando o aprofundamento de nossa compreensão das lições de Jesus para sua
necessária vivência. Eis, portanto, o versículo que nos cabe considerar:
“Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei
Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém (...)”
As reticências indicam a quebra ou incompletude do texto, de
modo que é um dever de consciência indicar seu complemento no versículo
seguinte: “(...) perguntando: ‘Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com
efeito, vimos a sua estrela no seu surgir e vimos homenageá-lo’”. Não trataremos
aqui das consequências dessa visita, atendo-nos, o quanto possível, às palavras
do verso previamente citado e, necessariamente, ao seu significado para nosso
aproveitamento. Para início de conversa, citemos que o nome Belém quer dizer,
em hebraico, “casa do pão”, enquanto Jerusalém, então a capital dos judeus,
significa “cidade da paz”.
O nascimento de Jesus, o Messias, ocorre na Casa do Pão,
dando cumprimento às antigas profecias, especialmente as previsões do profeta
Isaías, como a indicar a resposta dos Céus à grande necessidade do povo
escolhido, faminto de esperança e da proteção do Alto. O Advento acontece “no
tempo do rei Herodes”, instalado na Cidade da Paz, não se tratando, porém, do
monarca que se divertiria às custas do Mestre na ocasião de seu martírio. É a esse
Herodes, cognominado “o Grande”, que os magos visitam para saber o paradeiro do
“rei recém-nascido”. (Historicamente, há aí um erro considerável, pois Herodes
reinou até por volta do ano 5 ou 4 antes da época estabelecida para o
nascimento de Jesus.)
Não faz muito, acabamos de festejar, mais uma vez, esse
nascimento, desde que a Igreja instituiu a data de 25 de dezembro para essa comemoração,
envolta num “clima de magia” aproveitada pela publicidade com fins meramente
comerciais, mas recordando os magos do Oriente. Em torno deles se construiria
toda uma história lendária, porque esse episódio, desprezado por Marcos e João,
somente Mateus o relata, porquanto Lucas registra apenas a visita dos
pastores. Se, de fato, Mateus falta com a verdade, é que seu Evangelho foi
reescrito nesse ponto, com a provável finalidade de emprestar ao nascimento uma
“grandeza” compatível com os destinos que a Igreja estava tomando, unindo-se
aos poderosos do mundo, tão zelosos de suas riquezas materiais e de seu
pretenso poderio político.
Essa “fantasia” subverte o sentido da vinda do Messias ao
mundo, que é a lição da humildade observada naquele que desce das alturas celestiais
para mostrar o caminho da redenção espiritual. Mas, por outro lado, pode
indicar a submissão das potestades a essa mesma grandeza espiritual, indicando
a transitoriedade dos poderes mundanos. Seja como for, o que realmente importa não
é a visita que os ricos e poderosos façam a Jesus, nem os “presentes” materiais
que lhe ofertem, em apenas um dia específico do ano, porquanto é dele que vem o
que de fato nos interessa: o pão da vida!
Durante seu messianato, o Cristo fez multiplicar pães e
peixes e muitos dos que ficaram saciados com o alimento do corpo voltaram a ele
solicitando mais, recebendo, contudo, esta admoestação: "Está escrito: 'Nem
só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da
boca de Deus'" (Mateus 4:4). E esse pão da vida procede da mesma
fonte de onde brota a água viva que dessedenta para sempre quem dela beba.
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