Vocês já ouviram dizer que Jesus era peripatético? Ao
contrário do que pode fazer supor, essa palavra, de etimologia grega, não tem
nada de ofensiva e quer dizer apenas “aquele que ensina caminhando”. Esse é o
pano de fundo dos comentários que faremos hoje, dia 19 de janeiro, dando
prosseguimento a nosso estudo de temas do Novo Testamento. Assim, na Bíblia de
Jerusalém, no capítulo 19 do Evangelho de Mateus, o primeiro versículo, colocado
sob a epígrafe “Perguntas sobre o divórcio”, traz o seguinte texto:
“Quando Jesus terminou essas palavras, partiu da Galileia
e foi para o território da Judeia, além do Jordão.”
Antes de mais nada, estamos na sexta parte dos escritos de
Mateus, intitulada “O advento próximo do Reino dos Céus”, introduzindo a “Parte
narrativa” que inclui cinco capítulos até chegar ao “Discurso escatológico”. As
palavras que o Mestre havia acabado de pronunciar eram constantes do “Discurso
sobre a igreja”, provavelmente em Cafarnaum, onde Jesus fez, na casa de Pedro, sua
“base de operações”. Multidões vindas de toda parte da Galileia acorriam às
pregações do Nazareno, não só para ouvi-lo, mas também para receber outros
benefícios diretos, como a cura de enfermidades e a supressão de deficiências
físicas: cegos voltavam a enxergar, paralíticos recuperavam os movimentos e
surdos passavam a ouvir, integrando-se mais efetivamente, assim lhes parecia,
às alegrias do Reino de Deus.
Havia, contudo, outras ovelhas do rebanho de Jesus e ele
tinha de pastoreá-las, daí atender ao balido daquelas desgarradas, deslocando-se
continuamente, peripateticamente, nos três anos de seu messianato, do Norte para
o Sul da Palestina, ensinando e exemplificando em cada aldeia, em cada cidade,
em cada região onde houvesse remanescentes dos filhos de Israel. Segundo João,
o evangelista, tudo quanto o Messias disse e fez, em apenas três anos, não caberia
nos livros que se escrevessem (João 21:25), tantas foram as lições, tantos os
prodígios observados.
Sua base de operações, em Cafarnaum, ficava na Galileia,
nome cujo significado é “jardim fechado” e lá, de acordo com Pastorino (*),
Jesus não só se sentia em casa como experimentava relativa segurança ante as
ameaças dos representantes do Sinédrio, espécie de tribunal do Templo de
Jerusalém, do qual participavam os mais destacados doutores da Lei. Até que
chegasse “sua hora”, isto é, o dia do grande sacrifício, conforme as antigas Escrituras,
especialmente as profecias de Isaías, o Rabi devia, após retemperar as forças,
seguir conclamando os corações sensíveis e as almas aflitas ao desprendimento
das coisas do mundo e voltarem as atenções para o apelo que o Pai de amor e
misericórdia lhes fazia através dele, o Cordeiro de Deus que renovava a
esperança de toda a Humanidade sofrida.
Hoje, os novos arautos do Evangelho contam com infinitas
possibilidades de deslocamento, facilitando-lhes a tarefa de pregação e sua
voz, reproduzindo as sublimes lições do Cristo, ecoam através do espaço
alcançando os mais longínquos rincões graças às facilidades do progresso
tecnológico. Há dois mil anos, porém, as dificuldades eram inúmeras e os
pregadores se valiam das próprias pernas e, no caso de Jesus, de sua capacidade
de manipular conscientemente os recursos fluídicos da Natureza, amplificando sua
extensão vocal, por exemplo. Com o Espiritismo e suas instruções acerca da
realidade do Espírito imortal, também nós, estudando-o com afinco, um dia
compreenderemos as leis que regem as relações entre os dois mundos e seremos servidores
melhores e mais fiéis do Cristo.
(*) Carlos Torres Pastorino, autor de Sabedoria do
Evangelho, obra que destrincha, em oito volumes, os meandros, minúcias e mistérios
do Evangelho.
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