Francisco Muniz //
“Com efeito, a linguagem da cruz é loucura para aqueles
que se perdem, mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus.”
Esse é o texto, tirado da Bíblia de Jerusalém, do
versículo 18 do primeiro capítulo da primeira Epístola de Paulo aos Coríntios,
que tem como epígrafe a “sabedoria do mundo e sabedoria cristã”. E é desse
assunto que trataremos hoje, dia 18 de janeiro, em nosso estudo de algumas passagens
do Novo Testamento, tecendo comentários baseados na Doutrina dos Espíritos.
Evidentemente, Paulo se refere ao sacrifício de Jesus, que
com sua morte na cruz – e posterior ressurreição – demonstra o sentido da vida
para todos aqueles capazes de compreender a natureza do Espírito imortal. Estes
são “os que se salvam”, no entendimento do Apóstolo dos Gentios, por se
submeterem e assim merecerem, com tal atitude de confiança, a demonstração viva
do poder de Deus.
Para os que desprezam a fé nesse poder, entretanto, “os que
se perdem”, tudo não passa de loucura e mais de dois mil anos depois a parcela
dos “loucos” no mundo, isto é, daqueles que despertam para a vivência da verdade
apontada pelo Cristo, é cada vez maior, ao passo que os aparentemente “sensatos”
continuam perdidos nos dois lados da existência. Segundo o que nos diz o
Espírito Emmanuel, a verdadeira loucura (não a patológica) é não vivermos a realidade
do Espírito imortal, entregando-nos ao império enganador das ideias
materialistas, “o veneno que inocula em um grande número de pessoas o
pensamento do suicídio, e aqueles que se fazem seus apóstolos assumem sobre si
uma terrível responsabilidade” (1).
Os que se perdem, seguindo a estrada espaçosa das
facilidades do mundo (2), não ficarão para sempre ao desamparo, pois para eles
é que o Cristo veio ao mundo e, agora, temos o Espiritismo a nos apontar o
caminho da salvação: “A porta da perdição é larga, porque as más paixões são
numerosas, e o caminho do mal é frequentado pela maioria. A da salvação é estreita,
porque o homem que quer transpô-la deve fazer grandes esforços sobre si mesmo
para vencer suas más tendências, e poucos a isso se resignam; é o complemento
da máxima: Há muitos chamados e poucos escolhidos” (3).
Ou seja, como mudamos de posição a cada reencarnação, numa
troca dos papéis que representamos no grande palco da vida, sendo promovidos de
acordo com o aprendizado realizado a cada vez, aqueles de nós que soubemos dar
os passos necessários para vencer a submissão ao materialismo podemos nos
felicitar, sabendo que não precisamos mais repetir os antigos dramas a não ser
para incentivar os retardatários. É essa, então, a sabedoria por trás da “linguagem
da cruz” referida por Paulo, indicando-nos que Deus não quer a morte do ímpio,
mas sua conversão ao bem (4), através do sacrifício de sua personalidade inferior,
terrena, em função da individualidade vinculada à dimensão superior,
essencialmente divina.
Desde que nos decidimos pela orientação do Espiritismo,
portanto – e o façamos com responsabilidade, isto é, conscientes do que essa
decisão representa para nossa felicidade futura –, já não haverá mais espaço em
nossa consciência para a tergiversação, uma vez compreendida a extensão do
compromisso assumido perante o Cristo. Já podemos aceitar livremente seu jugo,
que é suave, e sustentar o fardo leve de nossa cruz, sacrificando o ego e seu
séquito de paixões asselvajadas no altar do amor imperecível, caminhando para a
inexorabilidade de nossa destinação: a união definitiva com a Divindade!
Notas
(1) Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Cap. V, itens 14 a 17 (“O suicídio e a loucura”).
(2) Mateus 7:13 e 14.
(3) Allan Kardec, op. cit., Cap. XVIII, item 5 (“A porta
estreita”).
(4) Ver o livro de Ezequiel, no Velho Testamento.
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