Esta data no Evangelho (17 de janeiro)

Francisco Muniz // 




Hoje, dia 17 de janeiro, nossos comentários, no âmbito do estudo de temas do Novo Testamento, envolvem o versículo 17 do primeiro capítulo do Evangelho de Lucas, que a Bíblia de Jerusalém registra nestes termos:

“Ele caminhará à sua frente, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à prudência dos justos, para preparar ao Senhor um povo disposto.”

Lucas, como já vimos, inicia seu relato com os antecedentes da missão do Cristo, tratando aí, mais especificamente, do anúncio do nascimento de João, o futuro Batista. As palavras constantes do versículo, portanto, correspondem ao que o Anjo Gabriel falou ao velho sacerdote Zacarias, pai do menino. Neste momento de nosso estudo, porém, já podemos transcender esse aspecto da lição e abordá-la do ponto de vista do Espiritismo, vendo a Doutrina codificada por Allan Kardec como mais um arauto de Jesus com a tarefa de preparar o caminho para que o Messias se instale em definitivo no coração dos homens.

Assim é que a Doutrina Espírita caminhará à frente do trabalho regenerador da Humanidade “com o espírito e o poder de Elias”, ou seja, desfraldando a bandeira da reencarnação, que Kardec e os Espíritos Superiores reconhecem como o único dogma do Espiritismo. Reconhecendo na doutrina das vidas sucessivas a base “sine qua non” para a compreensão de muitos, senão todos, os problemas que desafiam entendimento humano, vemos que a questão é, ao contrário do que amiúde se crê, muito mais sociológica que religiosa, sendo um dever moral estudá-la o mais amplamente possível.

Em razão disso é que costumamos dizer que nem todo mundo precisa ser espírita, mas todos deveriam conhecer o Espiritismo, por se tratar de uma doutrina que explica sobejamente qual é nosso papel na vida, nas três dimensões temporais que ela comporta: passado, presente e futuro. Em função desse entendimento é que surge o objetivo primordial da Doutrina: o aperfeiçoamento moral de toda a Humanidade (*), quando, conforme as palavras de Gabriel, um “povo justo” estará preparado para servir ao Senhor com mais consciência e responsabilidade. Só assim o “coração dos pais estará convertido aos filhos e os rebeldes à prudência dos justos”.

Isso quer dizer que, sem precisarmos recorrer aos processos de regressão de memória, pulando o muro do imprescindível esquecimento do passado, reconheceremos em nossos filhos os seres amados de antanho, os quais Deus nos confiou para apertarmos ainda mais os laços de afeto; de igual modo, observaremos nos companheiros revoltosos, na família ou fora do círculo familiar, aqueles a quem um dia desprezamos e com os quais precisamos, agora, estabelecer os vínculos de amorosa convivência, reconciliando-nos com eles através do perdão que é acolhimento, respeito e compreensão.

Evangelizados, quer dizer, moralizados através da vivência das lições de Jesus, cumprindo incondicionalmente os mandamentos de nosso Mestre e Senhor, seremos, em futuro não muito distante, o “povo disposto” suscitado pelo Anjo. Um povo disposto ao trabalho de renovação íntima, extirpando da própria personalidade as nódoas do egoísmo e do orgulho; disposto aos cuidados para com o saneamento do planeta, protegendo e colaborando com a Natureza; disposto, enfim, às práticas caritativas, abraçando o próximo em suas necessidades, cooperando para o bem-estar da coletividade.

(*) Ver O Livro dos Espíritos, capítulo V – Considerações sobre a pluralidade das existências.


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