Francisco Muniz //
A terceira epígrafe observada no primeiro capítulo da
Epístola aos Filipenses fala da “situação pessoal de Paulo” e sob ela
encontramos o versículo 16, que servirá aos comentários que faremos hoje, dia
16 de janeiro, prosseguindo os estudos acerca de passagens do Novo Testamento. Disto
isto, vamos ao texto da Bíblia de Jerusalém, que vem mais uma vez “quebrado”:
“(...) estes por amor proclamam a Cristo, sabendo que fui
posto para defesa do evangelho (...)”
As reticências dentro dos parênteses indicam tanto a
anterioridade quanto a posterioridade do pensamento do Apóstolo dos Gentios e,
para compreendê-lo devidamente, vamos conhecê-las, desde o versículo 12: “Quero
que saibais, irmãos, que o que me aconteceu redundou em progresso do evangelho:
as minhas prisões se tornaram conhecidas em Cristo por todo o Pretório (1) e
por toda parte, e a maioria dos irmãos, encorajados no Senhor pelas minhas
prisões, proclamam a Palavra com mais ousadia e sem temor. É verdade que alguns
anunciam o Cristo por inveja e porfia (2), e outros por boa vontade: (...) e
aqueles por rivalidade, não sinceramente, julgando com isso acrescentar
sofrimento às minhas prisões”.
Depreende-se, pois, que a carta de Paulo aos fiéis de
Filipos foi escrita da prisão e encaminhada através de seu amigo e médico Lucas,
cuja atuação em prol da divulgação do Evangelho inspirou. Mesmo preso,
portanto, o apóstolo tinha notícias acerca do nascente e florescente movimento
cristão, mantendo-se informado quanto aos vários modos de pregação suscitados
por seu próprio exemplo como propagador das propostas do Cristo. Sim, ele havia
sido posto em ação para defesa do evangelho e o fez galhardamente, afrontando
todas as ameaças e se submetendo resignadamente à vontade do Alto, deixando-nos
seu legado, em nome do amor à causa de Jesus de Nazaré.
É por amor que proclamamos e devemos proclamar as alegrias
do Reino dos Céus e reunir em torno desse ideal os corações sensíveis, as almas
aflitas e as mentes que ainda duvidam, para que, examinando tais propostas sob
a luz da razão, da lógica e do bom senso, decidam-se pelo melhor. O divulgador
das lições do Cristo, conquanto seja mais um “homem no mundo” (3), deve se precaver,
contudo, das seduções e ameaças do caminho, sendo fiel à tarefa, conforme as
palavras de um Espírito Protetor em O Evangelho Segundo o Espiritismo
(4): “Fostes chamados a entrar em contato com Espíritos de natureza diferente,
de caracteres opostos; não choqueis nenhum daqueles com os quais vos
encontrardes. Sede alegres, sede felizes, mas da alegria que dá uma boa
consciência, da felicidade do herdeiro do céu contando os dias que o aproximam
de sua herança”.
Assim devemos entender a natureza e extensão do trabalho a
que nos devotamos, como aprendizes do Espiritismo, recordando continuamente o
apelo que o Amigo divino nos faz através de Allan Kardec, ao delinear, por
exemplo, a missão dos espíritas (ESE, Cap. XX, item 4) e a missão do homem
inteligente na Terra (ESE, Cap. VII, item 13). Os primeiros divulgadores
tiveram, muitos deles, de sacrificar a própria vida física em função da tarefa
abraçada, demonstrando a vitória do Espírito imortal sobre a transitoriedade da
vida material. Na atualidade, não precisamos ser novos mártires, mas seguimos necessitados
de vencer o império do ego, sacrificando o orgulho e o egoísmo no altar da
caridade e da humildade, para de fato merecermos participar das alegrias do
banquete nupcial que tão alegremente anunciamos.
Notas
(1) Tribunal do pretor, do responsável pela justiça, na
antiga Roma.
(2) Contenda de palavras; discussão, disputa, polêmica.
(3 e 4) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, item
10.
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