Esta data no Evangelho (14 de janeiro)

Francisco Muniz // 




Vem da Epístola de Tiago, em seu versículo 14 do primeiro capítulo, correspondentes a este dia 14 de janeiro, o assunto que ocupará nossos comentários de hoje, prosseguindo nosso estudo de temas do Novo Testamento. O texto, lido na Bíblia de Jerusalém, diz-nos o seguinte:

“Antes, cada qual é tentado pela própria concupiscência, que o arrasta e seduz.”

O apóstolo, irmão mais velho do evangelista João, começa, em sua Carta destinada “às doze tribos da Dispersão”, falando da “provação” (epígrafe do versículo analisado), ante a qual “ninguém, ao ser tentado, deve dizer: ‘É Deus que me está tentando’, pois Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta”. São nossos arrastamentos ao mal, fruto de nossas más tendências – a tal da concupiscência – que ocasionam as tentações, e somente pela invigilância, se já estamos conscientes disso, nos permitimos cair, muitas vezes fragorosamente.

Na oração do Pai Nosso – já comentada em nosso estudo, não faz muito – o Cristo ensina-nos a pedir a Deus que “não nos deixe cair em tentação”, o que quer dizer que, pela prece, condicionando nossos pensamentos à dimensão divina, podemos fortalecer nosso ânimo e assim mantermos o equilíbrio ante as situações representativas das provas enfrentadas durante a encarnação. As tentações são necessárias em razão dessas provas, parece-nos, sendo de nossa responsabilidade resistirmos a elas, a fim de obtermos as vitórias sobre nossa inferioridade moral e garantirmos o mínimo de evolução espiritual. Mas ninguém pense ser fácil tal esforço.

De acordo com uma amiga estudiosa do Espiritismo, nosso comportamento no mundo se assemelha ao “enterro dos nagôs”. Diz ela que, entre essa tribo africana, quando alguém morre, seus parentes e amigos seguem o féretro dando dois passos para frente e um para trás, de modo a ficar mais tempo na companhia do corpo do ser amado que se despede da vida física. Seria assim, para ela, nossa trajetória no rumo da moralidade, destruindo inconscientemente a construção feita no dia anterior. Daí a necessidade de nos esforçarmos cada vez mais no trabalho de autotransformação, ouvindo e meditando com mais constância o apelo do Mestre nazareno quanto a orarmos e vigiarmos, para não cairmos em tentação.

Mas, para o Espírito cônscio de suas tarefas na Terra, as tentações podem ser algo bom, impelindo-o para maiores conquistas sobre si mesmo. Tenho um amigo que costuma pedir a Deus “um desafiozinho” quando as coisas em sua vida parecem muito tranquilas. É um pensamento semelhante àquele que o cantor e compositor Raul Seixas expõe na letra a música Egoísta: “Eu quero é ter tentação no caminho, pois o homem é o exercício que faz”. Se considerarmos que a maior parte dos Espíritos em estágio num mundo de provas e expiação está gravemente enferma devido à sua concupiscência, concluiremos que as tentações são parte das provas escolhidas por cada um – mesmo naqueles em que essas provas foram impostas houve um consentimento tácito.

Nosso dever, contudo, é resistir à tentação e nos resignarmos à provação, confiando em que a Divina Misericórdia nos sustenta no momento da dor mais intensa, como no famoso poema “Pegadas na areia”: o homem que acostumou-se a caminhar ao lado de Jesus via suas pegadas e as do Mestre impressas na areia da praia; mas nos momentos mais dolorosos de sua vida, ele reparou que havia, em sua caminhada, apenas um par de pegadas e então questionou o Senhor: tu me abandonaste naqueles dias? O Rabi, porém, fê-lo entender que nos instantes tormentosos de sua vida era ele, o Amigo de todas as horas, que o carregava em seus braços. Assim, ante essa infalível proteção, que venham as tentações!


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