Francisco Muniz //
“Discurso escatológico. Introdução” é a epígrafe que abre o
capítulo 13 do Evangelho de Marcos, no qual Jesus nos fala dos momentos
tormentosos que a Humanidade, fortemente marcada pelo materialismo, enfrentaria
no futuro. É desse capítulo que retiramos o primeiro versículo para os
comentários deste dia 13 de janeiro, continuando nosso estudo de temas do Novo
Testamento, sob a luz da Doutrina Espírita. Eis o texto, recolhido da Bíblia
de Jerusalém:
“Ao sair do Templo, disse-lhe um dos seus discípulos: “Mestre,
vê que pedras e que construções!”
Nós, os homens, orgulhamo-nos muito de nossas realizações
materiais, embora todas elas sejam, no fim das contas, monumentos à
impermanência, porquanto tudo passa, nada é para sempre na face do planeta.
Quantas civilizações do passado jazem sob a areia do deserto? As pirâmides do
Egito são, talvez, a mais eloquente expressão silenciosa da fatuidade humana,
especialmente pela figura da Esfinge, que há milênios desafia o homem a melhor
compreender a própria condição. Assim, Jesus, conhecedor de que os templos de
pedra são bem menos que o templo real onde a criatura deve cultuar seu Criador,
diz ao discípulo que do Templo de Jerusalém não restaria, em futuro breve,
pedra sobre pedra (Marcos 13:2).
Os judeus, com efeito, eram, então – e devem sê-lo hoje
ainda –, assaz orgulhosos do Templo, uma construção portentosa erigida seguidas
vezes desde os tempos do rei Salomão e não poderiam compreender que o Rabi
nazareno se referisse a outro local de adoração que não aquele. Os fariseus o
acusaram de blasfêmia quando ouviram o Messias dizer que, após o templo ser destruído,
ele o reergueria em três dias. Mas o Mestre se referia ao próprio corpo
material, que momentaneamente habitava, em sua expressão ponderável, o que
efetivamente aconteceu quando da Ressurreição. É que em termos gerais, o “templo
do Espírito”, a estrutura de carne, ossos, nervos e sangue, demora 72 horas
para permitir a libertação completa da alma.
Contraditoriamente, as lições transcendentais acerca da
independência do Espírito em relação às coisas materiais ainda não foram assimiladas
nem mesmo pelo grupo religioso que se apropriou da herança cristã. Com a
oficialização do Cristianismo como religião do Império Romano, o materialismo
se entronizou e os templos do paganismo passaram a ter novo status, os antigos
deuses foram substituídos por figuras humanas “santificadas” e a suntuosidade tão
ao gosto dos poderosos de plantão deu a tônica das novas construções da nova
religião, agora chamada de Catolicismo. Ficaram os símbolos, foi-se o
significado: o Cristo, que não veio instituir religião alguma, não estava mais
aí.
O fato é que, historicamente, o Templo de Jerusalém foi destruído
no ano 70 da era cristã, pelas legiões romanas comandadas por Tito, a
mando do imperador Vespasiano, que sitiou e destruiu Jerusalém para acabar com
a revolta judaica contra o império. No livro Há Dois Mil Anos (ed.
FEB), ditado à psicografia de Chico Xavier, o Espírito Emmanuel conta essa
história, da qual foi testemunha ocular (dói usar essa expressão, porque nesse
episódio o senador Públio Lentulus é aprisionado pelos judeus revoltosos e,
torturado, perde a visão de ambos os olhos).
De modo similar, precisamos ficar cegos para as paisagens do
mundo e abri-los para a realidade do Espírito imortal, despertando com a
urgência possível para nossa condição mais íntima, a fim de adorarmos a Deus “em
espírito e verdade”, como nos ensinou o Mestre. De acordo com o psicanalista suíço
Carl Gustav Jung, “quem olha para fora sonha; quem olha para dentro desperta”,
de modo que é imprescindível nos redescobrirmos, na tarefa do autoconhecimento,
para a qual o Espiritismo nos estimula.
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