Esta data no Evangelho (1 de janeiro)

Francisco Muniz //




Iniciamos um novo ano com uma pergunta necessária: como era no princípio de tudo? A resposta, neste dia 1 de janeiro do novíssimo ano de 2022, quem nos dá é o Evangelho de João, que em seu primeiro versículo do primeiro capítulo joga luzes novas em todo o Velho Testamento, preparando as mentes do futuro para a compreensão das Escrituras através do Novo Testamento:

“No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.”

O Evangelista nos remete, com essas palavras, ao primeiro livro da Bíblia, no qual Moisés faz um belo apanhado da história religiosa do povo hebreu anunciando que “no princípio, Deus criou o céu e a terra. A Terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas. Deus disse: ‘Que exista a luz!’ E a luz começou a existir.” (Gênesis 1:1-3) O Verbo, depreende-se, origina-se tanto da palavra quanto da ação de Deus no tocante à Criação de tudo quanto existe.

O evangelista, é claro, alude ao Cristo quando fala do Verbo que “estava com Deus” e “era Deus” – e não se pode desvincular uma figura da outra, que estão de tal modo unidas que é possível confundi-las numa só, daí a Teologia cristã afirmar que Jesus é Deus, mesmo depois de o Mestre ter dito ser o Enviado do Pai e que só fazia o que fez por determinação desse mesmo Pai. Desse ponto de vista, Jesus é, efetivamente, o Verbo, porquanto foi e é a ação de Deus junto aos homens: “Meu Pai trabalha desde sempre e eu também trabalho.” (João 5:17)

Carlos Torres Pastorino (*), no entanto, teorizando acerca da Palavra, esboça uma hipótese cosmogônica afirmando que “de tudo o que até agora vimos nos Evangelhos, chegamos a deduzir como se formaram os universos. E o mais impressionante é sua concordância com as recentes descobertas científicas”. Ele diz, por exemplo, que João, “o discípulo que reproduz os ensinos mais profundos de Jesus, o Cristo, revela-nos o segredo dos três aspectos do Deus Único” que aqui resumimos pobremente: o Absoluto, a Luz, o Espírito.

O aspecto Luz é que produz o Som, que é chamado A Palavra (Verbo, em latim, ou Logos, em grego). O Pai-Criador, assim, é realmente Som, pois que é Palavra, ressalta Pastorino, acrescentando que “esse Som produz as massas que se movimentam com rotação e translação constantes, enquanto perdura o som que as re-cria a cada instante; essas massas em movimento constante (e parasse o movimento, tudo cairia no nada) podem ser macroscópicas (sistemas estelares) ou microscópicas (sistemas atômicos)” – e aqui esse autor recorda a lição do mestre ascensionado egípcio Hermes Trimegisto: “O que há em cima, é como o que há embaixo”.

Ora, o Cristo desceu ao mundo para nos capacitar ao trabalho de evolução espiritual, mais que o meramente humano ou material, revelando nossa condição de cocriadores: “Tudo que eu fiz podeis fazer – e muito mais” (João 10:34), ensinamento repetido pelos Espíritos Superiores junto a Allan Kardec em O Livro dos Espíritos. Cabe-nos reconhecer esse desiderato e cumprirmos as recomendações de Jesus quanto a arregaçar as mangas, tomar do arado e da charrua evangélicas e então sairmos a semear a boa semente.

Os ensinos sempre atuais do Evangelho exigem-nos ação constante e permanente, tanto dentro de nós mesmos, purificando e aperfeiçoando nosso mundo íntimo, quanto no entorno, junto aos nossos irmãos, agindo em sociedade. As ações em nome da caridade e da solidariedade, ao mesmo tempo que diminuem ou superam as tragédias coletivas, asserenam os conflitos internos, renovando as forças para novos e continuados embates cuja finalidade é o crescimento ou progresso geral. É hora, pois, de trabalharmos com mais afinco, sob as bênçãos e a inspiração do Cristo.

(*) Carlos Torres Pastorino, autor da obra Sabedoria do Evangelho, em oito volumes, na qual destrincha os termos observados nos escritos de Mateus, Lucas, Marcos e João.


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