Francisco Muniz //
A “Parábola dos vinhateiros homicidas” é tanto a epígrafe quanto o pano de fundo dos comentários que faremos neste dia 4 de dezembro, no âmbito de nossos estudos em torno de passagens do Novo Testamento. Assim, vamos ao versículo quatro do capítulo 12 do Evangelho de Marcos e leiamos, na Bíblia de Jerusalém, o texto correspondente:
“Enviou-lhes de novo outro servo. Mas bateram-lhe na
cabeça e o insultaram.”
Como na Parábola do Festim de Núpcias, Jesus narra a
característica recepção que os homens, ainda aferrados ao culto do
materialismo, reserva aos emissários divinos a cada vez que um deles vem chamá-los
ao cultivo das verdades eternas, vivendo, o quanto possível, a condição
espiritual comum a todos. Estamos muito mais ocupados e preocupados “com nossos
negócios”, nossas “casas de campo”, nossos bens materiais, em suma, para dar
atenção a quem nos venha falar de Deus, de caridade, de vida espiritual... de
coisas etéreas, tão subjetivas quanto a fumaça, que se desfaz quando tentamos segurá-la,
ao passo que a vida na Terra se impõe com sua realidade objetiva, concreta
mesmo.
Tal é o pensamento dos homens que Santo Agostinho e o
apóstolo Paulo de Tarso, antes do filho de Hipona, classificaram de “materiais”,
classificação essa que caiu no gosto de Huberto Rohden, o grande iniciador da “filosofia
univérsica” e para quem os homens são, gradativamente, também “psíquicos” e “espirituais”.
Rohden assim os conceitua: materiais são aqueles que não querem conta com a Verdade;
psíquicos, os que já vislumbram a Verdade sem contudo vivê-la; e espirituais
são todos os que conhecem e vivem plenamente a Verdade. Ouso dizer que nós,
cristãos-espíritas, estamos em trânsito entre a segunda e a última condição, já
superada a fase primária.
Isto significa que já aceitamos de boa vontade a colaboração
trazida pelos enviados celestiais e não mais os expulsamos de nosso meio com a
força bruta de nossa incredulidade, embora seja possível ver, em nossos arraiais,
algumas manifestações de resistência, representando um passo atrás no caminho do
progresso espiritual. Um exemplo disso foi a reserva esboçada pelo movimento
espírita brasileiro – ou parte dele – quando do lançamento do livro Nosso
Lar, que o Espírito André Luiz ditou ao médium mineiro Francisco Cândido
Xavier. A publicação da Federação Espírita Brasileira, de 1937, suscitou desconfianças,
afinal, Allan Kardec não havia escrito nada sobre cidades ou colônias no plano
espiritual!
O Codificador simplesmente não teve tempo, desencarnando
precocemente aos 64 anos de idade, mas na história do Espiritualismo – e o
Espiritismo é uma doutrina espiritualista, vale sempre frisar – há a colaboração
dos médiuns que prepararam o campo para a tarefa magnânima do Prof. Rivail, a
exemplo do sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772), em cujos livros (*) há
descrições de cidades, indumentárias e meios de locomoção dos Espíritos,
antecedendo André Luiz em quase dois séculos.
Os antigos profetas que tempos em tempos a Bondade Divina nos
envia e que os homens da Antiguidade repudiaram – assim como ao próprio Messias!
– eram médiuns, instrumentos dos Espíritos encarregados pelo Mais Alto de convidar-nos
ao concerto da Harmonia universal. Na Idade Média, eram eles os bruxos e
feiticeiros, os desbravadores da Ciência de cujo pioneirismo a superstição e a
fé cega cobraram um elevado tributo – que o digam Giordano Bruno e Joana D’Arc,
a Virgem de Orleans. Mas seu sacrifício não foi em vão, porque o que antes era
visto como “sobrenatural” o Espiritismo veio provar ser uma das forças vivas da
Natureza e hoje já não é mais possível negar a realidade do Espírito imortal.
(*) Sobre Suedenborg e sua obra, recomendamos a leitura de História
do Espiritualismo, de Sir Arthur Conan Doyle.
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