Esta data no Evangelho (31 de dezembro)

Francisco Muniz // 




Dezembro se vai e, com ele, também o ano de 2021, com todo seu cortejo de dramas e alegrias, provações e expectativas, realizadas ou não, abrindo espaço para os 365 novos dias que se anunciam, trazendo muitas reflexões que deveremos submeter ao crivo das lições de Jesus. Assim, encerraremos os comentários deste último dia analisando o versículo 31 do capítulo 12 do Evangelho de Marcos, que na Bíblia de Jerusalém lemos como segue:

“O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior do que esses.”

Nada como começar do começo, isto é, finalizar um ciclo e iniciar outro com o que realmente importa considerar; neste caso, com o maior mandamento da Lei de Deus ensinado pelo Cristo, que nos orienta quanto ao modo de manifestarmos nossa submissão ao Criador, o Pai de amor e misericórdia. No versículo destacado, o Mestre se refere ao segundo mandamento, que é similar ao primeiro, conforme revelado ao escriba que o havia questionado: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor, e amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento, e com toda a tua força”.

“Israel”, hoje sabemos, é toda a Humanidade, a grande comunidade dos filhos de Deus chamados a reverenciar seu Criador, abrindo mão das crenças politeístas identificadas com o materialismo, porquanto Deus é Espírito e como tal deve ser adorado, “em Espírito e verdade” (João 4:24). Consequentemente, o Espírito que somos, tanto quanto o Espírito que nosso próximo é, deve merecer igual tratamento respeitoso, porquanto um e outro são expressões de Deus, criados “simples e ignorantes”, de acordo com o que os Espíritos Superiores disseram a Allan Kardec (*), para se aperfeiçoarem e, colaborativamente, adquirirem sabedoria.

Agora, venha cá: tudo quanto fazemos acerca desses mandamentos ainda é e será simples teorização se não conseguimos arregaçar as mangas e tomar do arado para semearmos esse amor de que o Cristo nos fala há mais de dois mil anos. Para de fato manifestarmos o amor ao próximo, bastará olharmos para os lados e observarmos a grande multidão de sofredores e ao menos tentarmos fazer o mínimo de que necessitam – e esse mínimo é tudo que estiver ao nosso alcance. A realidade do mundo constitui-se de dor e sofrimento provocados pelo crime, pela violência e, principalmente, pela indiferença que nascem de nossa ignorância, de nosso orgulho, de nosso egoísmo.

E o parâmetro do amor ao próximo é o amor que devotamos a nós mesmos, se bem compreendemos as palavras de Jesus, o que nos leva a refletir acerca da regra de ouro que o Mestre nos legou: tudo que queremos que o outro nos faça, façamos nós primeiramente a ele. Dessa forma, se queremos ser amados, devemos amar o próximo através de atitudes conscientes no campo da aceitação, compreensão e respeito à sua condição, além da indulgência ou perdão para com seus erros; da tolerância quanto a seu modo peculiar de pensar e agir, recordando que, se já conseguimos chegar a semelhante patamar, é que superamos a fase anterior e que o outro está fazendo os mesmos esforços para alcançar igual objetivo.

Estender a mão, abrir um sorriso e o coração, emprestar os ouvidos... são pequenos gestos que farão toda a diferença no contato quase sempre difícil na relação com o outro, porquanto é desse modo que obteremos vitórias sobre nós mesmos e elevaremos nossa alma a Deus, sendo-lhe agradáveis através do sacrifício de nossos interesses imediatistas em favor da harmonia geral.  

(*) O Livro dos Espíritos, questões 76 e seguintes.  


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