Francisco Muniz //
A Epístola de Tiago nos dá, neste dia 3 de dezembro, o tema
de nossos comentários em torno de passagens do Novo Testamento e assim, aberta
a Bíblia de Jerusalém no capítulo 3 dessa Carta do irmão do evangelista
João, lemos o texto do versículo 12:
“Porventura, meus irmãos, pode uma figueira produzir
azeitonas ou uma videira produzir figos? Assim, uma fonte de água salgada não
pode produzir água doce.”
O apóstolo pode estar se referindo à natureza das coisas,
mas suas observações dizem respeito à diversidade dos caracteres humanos,
remontando a um preciosíssimo conselho do Mestre Jesus, que há mais de dois mil
anos nos alerta contra as armadilhas do julgamento, muitas vezes motivados por
falsas considerações acerca do comportamento do próximo. E esse julgamento nos
faz exigir dos outros o que eles não podem nos dar, porque não se colhem uvas
dos espinheiros, isto é, a natureza ou índole de certas pessoas só poderá
produzir aquilo de que ela é capaz naquele momento. É certo que, amadurecendo o
senso psicológico, todo mundo poderá, um dia, corresponder ao que se lhe pede,
mas, por enquanto, é respeitar sua condição e esperar...
Queremos sempre estar bem na companhia dos outros e receber
deles as mais agradáveis manifestações de carinho e estima; queremos ser
respeitados e compreendidos, amados mesmo, sem pensar, muitas vezes, que esse
querer corresponde à nossa própria iniciativa: somos nós que devemos levar bem
estar ao próximo, tornando-nos amistosos através de palavras e atitudes gentis,
compreendendo, respeitando e aceitando o outro como se encontra
momentaneamente, sabendo que um dia ele vai melhorar – e pode ser que nosso
comportamento seja o motivo pelo qual essa mudança ocorrerá. Se nos julgamos
água doce, não temos o direito de ser “água salgada” na vida de ninguém.
O questionamento de Tiago é colocado, na Bíblia, sob a
epígrafe “Contra a intemperança na linguagem”, e ele aconselha que não
queiramos ser mestres, porque estamos sujeitos a mais severo julgamento e, afinal,
“todos tropeçamos frequentemente”. Entendemos, desse modo, que nossas palavras devem
ser pronunciadas com a finalidade de criar e manter um clima de harmonia em nossos
relacionamentos, o mais completamente possível. Por essa razão é que Jesus nos
aconselha a orar e vigiar constantemente, a fim de não nos vermos como
instrumentos de queda dos demais, “pois a boca fala do que está cheio o coração”
(Mateus 12:34).
Para Tiago, “aquele que não peca no falar é realmente um
homem perfeito, capaz de refrear todo o seu corpo”, ou seja, é alguém que já
conseguiu dominar seus impulsos inferiores, passando a sintonizar com as
esferas mais altas do pensamento. Segundo Allan Kardec, o verdadeiro espírita, identificado
com o verdadeiro cristão, é reconhecido “pelos esforços que faz em domar suas
más inclinações” (*), o que quer dizer alguém que se encontra “num grau
superior de adiantamento moral” e já “domina mais completamente a matéria”, não
se deixando levar pelos arroubos da emoção e das paixões inferiores que põem a perder
as melhores intenções.
Esse equilíbrio resultará sempre do trabalho de reeducação a
que o Espírito está submetido no mundo, para onde veio com a finalidade de
modificar e aprimorar seu caráter através de rigorosas disciplinas a que bem
poucos se afeiçoam. Mas o Cristo disse, incentivando-nos: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não;
porque o que passa disto é de procedência maligna” (Mateus 5:37).
Aprendamos, pois, a não manter brasas acesas na mente e no coração (nossas
imperfeições), evitando que o diabo, assoprando, cause incêndios de sérias
consequências.
(*) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII,
item 4.
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