Esta data no Evangelho (29 de dezembro)

Francisco Muniz //




O capítulo 12 do Evangelho de Mateus retorna ao nosso estudo de passagens do Novo Testamento para apreciarmos hoje, dia 29 de dezembro, o texto do versículo 29, colocado sob a epígrafe “Jesus e Beelzebu”. O mote é ainda a incredulidade dos fariseus, manifestando dificuldade em aceitar a natureza divina da atuação do Messias na realização dos chamados “milagres”. Eis o texto, copiado da Bíblia de Jerusalém:

“Ou como pode alguém entrar na casa de um homem forte e roubar os seus pertences, se primeiro não o amarrar? Só então poderá roubar a sua casa.”

Já tratamos desse assunto aqui: observando, espantados, que Jesus fizera um homem surdo-mudo recuperar suas faculdades, após “expulsar” o “demônio” que o atormentava, os fariseus disseram que somente um enviado do próprio chefe dos demônios – Beelzebu, no caso – teria poder para expulsar demônios. É quando o Messias, lendo o pensamento deles, ensina-nos sobre a casa dividida contra si mesma, que não pode subsistir: “Ora, se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si mesmo. Como, então, poderá subsistir seu reinado?” Mas o Mestre os faz recordar que seus feitos não são uma novidade entre os judeus: “Se eu expulso os demônios por Beelzebu, por quem os expulsam os vossos adeptos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes”. E arremata: “Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós”.

A Doutrina Espírita já nos explicou o que são os demônios, revelando que não são seres criados à parte das criaturas de Deus e dedicados eternamente ao mal, mas Espíritos ainda na inferioridade dedicando-se, pela ignorância do que são e do que devem fazer, como filhos do Altíssimo, à prática do que Allan Kardec nomeou de obsessão. E esta vem a ser a ação persistente e nefasta que um Espírito (encarnado ou desencarnado) exerce sobre outro, provocando-lhe constrangimento físico ou moral. A ignorância desses fatos leva a que, por preconceito e superstição, algumas pessoas ainda pensem que o Espiritismo seja uma doutrina demoníaca e seus profitentes “têm parte” com o demônio, que mais não são que as almas dos homens maus que já não se encontram mais na Terra. Por não estarem retidos na carne, gozam de maior liberdade para atormentar aqueles de quem sentem inveja ou pelos quais devotam antipatia.

Desde que Kardec conceituou os fenômenos de obsessão, em O Livro dos Médiuns, desmistificando a condição dos Espíritos que a provocam, passamos a considerar em sua verdadeira acepção as palavras de Jesus a esse respeito, assim compreendendo que somos nós mesmos que damos vez a tais processos. Ou seja, somos o “homem forte” da parábola referida pelo Cristo, cuja casa – a mente invigilante – abrimos para deixar entrar aqueles que nos vêm roubar os pertences, amarrando-nos primeiro nos fios tênues do descompromisso com nossa realidade espiritual e necessário esforço de crescimento. Isso quer dizer que nenhum Espírito obsessor age sobre nós apenas movido pela própria animosidade, mas se aproveitam de nossas más tendências, razão pela qual Jesus nos recomendou orar e vigiar para não cairmos em tentação.

A superstição que ainda se percebe em torno das questões de fundo espiritual, como o fato de se tomar os Espíritos como “assombrações”, faz com que não se busque a verdade com a alma desejosa de aprender, embora esse seja um dos principais motivos de nossa jornada evolutiva: “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”, disse o Cristo (João 8:32). No entanto, os fatos científicos da doutrina de Jesus – que o Espiritismo revive – seguem recebendo a dúvida, a incredulidade e a desconfiança, quando não são contestados frontalmente, contrariando a própria Natureza. Entretanto, ao seu tempo, Galileu Galilei, apesar de ter seu pensamento cerceado pela Igreja, já reconhecia que tudo parte de Deus e se encaminha necessariamente para Deus...


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