Esta data no Evangelho (24)

Francisco Muniz // 




O capítulo 24 encerra o Evangelho de Lucas e dá início à sétima parte desse livro, intitulada “Após a ressurreição”. É dele que tiramos o versículo 12 para os comentários que faremos neste dia 24 de dezembro. O citado versículo traz a epígrafe “Pedro junto ao túmulo” e a redação da Bíblia de Jerusalém é esta:

“Pedro, contudo, levantou-se e correu ao túmulo. Inclinando-se, porém, viu apenas os lençóis. E voltou para casa, muito surpreso com o que acontecera.”

É sabido que Lucas não conhecera o Cristo pessoalmente e, influenciado pelas prédicas de Paulo, de quem era médico e amigo, saiu a campo colhendo informações aqui e ali acerca dos fatos mais relevantes envolvendo a vida e a missão de Jesus, além de consultar os escritos de Mateus que o Apóstolo dos Gentios certamente lhe cedera. Em seu trabalho, ele faz o papel de narrador e não de entrevistador, de modo que não é possível saber se este evangelista colheu do próprio Pedro os informes que salienta no final de seu Evangelho. O fato é que Lucas destaca que o Pescador, não aceitando o testemunho das mulheres quanto à ressurreição do Messias, corre ao túmulo e nada encontra senão lençóis.

Em meu livro de contos Por Causa Dele – pequenas histórias do tempo de Jesus (ed. Vento Leste, Salvador, 2018), dou minha versão imaginosa sobre o que teria acontecido na noite do desaparecimento do corpo que o Mestre utilizara em sua vitoriosa jornada terrena. Pedro, José de Arimateia e outra pessoa teriam se responsabilizado pela trasladação do corpo do Crucificado, às ocultas, para evitar sua profanação, de modo que o novo local ficou para sempre ignorado. Mas, disso tudo, o que ressalta importante é a verdade da ressurreição, demonstrando a vitória da vida sobre a morte e revelando que o corpo material não é mais que a alimária de que o Espírito imortal se serve para desempenhar as tarefas que o trouxeram ao chão do planeta.

Essa verdade, porém, ainda que dê o sentido do movimento que se denominou religião cristã, ou Cristianismo, somente agora, com a revelação espírita, que nos explica a realidade do Espírito imortal, é que começa a se enfatizar no entendimento humano. Vivemos, pois, a era do Espírito cujos conceitos deverão se consolidar neste milênio, junto com a elevação da Terra na hierarquia dos mundos, passando a ser um planeta regenerado, ou seja, um mundo onde o bem preponderará sobre o mal. Até lá, somos chamados aos esforços de mudança de pensamento e atitudes, de molde a transformarmos vícios em virtudes, erros em acertos, considerando a posição superior da alma em sua relação com o corpo que lhe é tão somente o campo de atuação, em sua manifestação no mundo dos efeitos.

Assim, já não lamentaremos a morte dos seres amados, por sabermos que ninguém morre e nem é, essa separação momentânea, uma perda, posto que entenderemos que não somos donos nem propriedade uns dos outros, mas seres individuais com tarefas específicas a desempenhar no meio da coletividade. Tal é a verdade que liberta ensinada pelo Cristo, a qual deve ser assimilada e vivenciada com a urgência possível por cada um dos discípulos de Jesus, especialmente aqueles de nós que nos instruímos pela Doutrina dos Espíritos. Nesse aspecto, é sempre recomendável observarmos as lições que o Mestre nos legou, ao afirmar, por exemplo, ter vindo para que tivéssemos vida em abundância, o que se evidencia na compreensão de que somos muito mais do que o simples conjunto de carne, nervos, ossos e sangue. O corpo físico, portanto, malgrado sua importância factual, é unicamente nosso instrumento de trabalho.


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