Francisco Muniz //
Ah! a vida espiritual e suas peculiaridades!... Hoje, dia 23
de dezembro, nossa atenção recai sobre o versículo 23 do capítulo 12 do
Evangelho de Marcos, que nos traz uma interessante lição de Jesus relativa à
situação das almas no mundo dos Espíritos. O texto – colhido, como sempre, na Bíblia
de Jerusalém – que comentaremos com base nas orientações oferecidas pelo
Espiritismo, é este, colocado sob a epígrafe “A ressurreição dos mortos”:
“Na ressurreição, quando ressuscitarem, de qual deles
será a mulher? Pois que os sete a tiveram por mulher.”
O chamado “caso Tobias” – assim o Espírito André Luiz intitulou
o capítulo do livro Nosso Lar em que trata desse assunto – tem sido tema de
muitas palestras no âmbito do movimento espírita, sendo um exemplo dessa
questão que os saduceus submeteram ao Nazareno naqueles dias recuados. Marcos
enfatiza a descrença dos seguidores de Sadoc (*) na ressurreição (nome que os
judeus davam à reencarnação), enquanto Allan Kardec assegura que essa
incredulidade envolvia também a imortalidade da alma e a existência dos anjos, bons
ou maus. Partidários dos fariseus na oposição ao Messias, os saduceus eram igualmente
“useiros e vezeiros” na ação de tentar a paciência de Jesus testando seus
conhecimentos superiores quão sublimes.
Assim, eles citaram Moisés, que havia feito esta
recomendação de forma a resguardar as mulheres das agruras do abandono: “Se alguém
tiver irmão que morra deixando mulher sem filhos, tomará ele a viúva e
suscitará descendência para o seu irmão”. Ladinos, os saduceus questionaram como
ficaria na Espiritualidade a mulher que, tendo sido esposa de sete irmãos, não gerou um filho sequer. O Mestre, em resposta, argumenta o erro deles ao desconhecerem tanto as Escrituras quanto o poder de Deus, porquanto no Além os
Espíritos “não se casam, nem se dão em casamento, mas são como os anjos nos
céus” (Marcos 12:25). É aqui que passamos a considerar o “caso Tobias”.
Tobias é o nome de um dos trabalhadores de Nosso Lar que, assim
como Lísias, tornou-se amigo do ex-médico André Luiz e narrou-lhe sua curiosa
história. Quando encarnado, Tobias ficara viúvo da mulher a quem amava e,
pensando na criação dos filhos pequenos, contraíra segundas núpcias com outra
que com o tempo lhe cativara a afeição. Desencarnados e de volta à Colônia
localizada no Umbral médio, acima da cidade do Rio de Janeiro, eis os três convivendo
harmoniosamente na mesma residência, o que provocou a curiosidade de André: sob
qual regime se dava essa convivência? Tobias revela, então, para nosso
entendimento de tão profunda questão, que os três vivem fraternalmente, dando
expressão mais sublime ao amor que os unira na Terra...
Compreende-se, lendo esse relato, que no mundo espiritual
vive-se, de fato, como “os anjos no céu”, isto é, as uniões matrimoniais por lá
nada têm do sensualismo que se observa na esfera física, onde a condição sexual
tem papel preponderante, respondendo pela necessidade de reprodução. Tal
necessidade, por sua vez, prende-se à lei da reencarnação, que só se observa no
plano material. Entre os Espíritos, portanto, reinam as afeições sinceras e as
relações se estabelecem de alma para alma, posto que eles, não precisando reproduzir,
não têm sexo, que está presente unicamente na organização física, conforme nos
diz O Livro dos Espíritos.
(*) Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução:
Notícias históricas.
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