Esta data no Evangelho (22 de dezembro)

Francisco Muniz // 




Sob a epígrafe “Discurso de Paulo aos judeus de Jerusalém”, nosso estudo de temas do Novo Testamento nos leva hoje, dia 22 de dezembro, ao capítulo 22 dos Atos dos Apóstolos, onde o versículo 12 se apresenta para nossos comentários à luz da Doutrina Espírita. Eis o texto lido na Bíblia de Jerusalém, outra vez “quebrado”:

“Certo Ananias, homem piedoso segundo a Lei, de quem davam bom testemunho todos os judeus da cidade (...)”

As reticências entre parênteses trazem este complemento: “(...) veio ter comigo”. Aí, Paulo está contando o lhe aconteceu desde o encontro com o Cristo no caminho de Damasco e de como, em consequência, Ananias curou a cegueira que acometera o doutor da lei ao vislumbrar a potente luminosidade de Jesus: “De pé, diante de mim, disse-me: ‘Saul, meu irmão, recobra a vista’. E eu, na mesma hora, pude vê-lo” (Atos 22:13). Vejamos que Saulo dirigiu-se a Damasco, verdadeiramente enfurecido, com o intuito de prender Ananias e levá-lo para ser julgado e, provavelmente, condenado à morte em Jerusalém pelo “crime” de ser mais um seguidor da seita do Caminho, assim como Estêvão, a quem fizera lapidar (*).

Vê-se, pois, que o encontro com o Cristo produzira um “milagre”, a mudança de opinião de Saulo acerca de seu benfeitor: agora, Ananias era “um homem piedoso” e cumpridor da Lei mosaica, benquisto na comunidade judaica de Damasco. Mas não foi assim também conosco? Não já nos surpreendemos dizendo não gostar de algo ou de alguém mesmo sem conhecê-los? Houve, certamente, um momento em nossa vida em que nossa opinião sobre o Espiritismo, sobre a Religião, sobre o Cristo precisou mudar, a fim de que melhor conciliássemos nossos anseios e equacionássemos os problemas que então nos afligiam. É o preconceito, filho do orgulho, que nos impede de travar conhecimento com o diferente, evitando ou postergando as alegrias das descobertas.

Em O Livro dos Espíritos Kardec nos informa acerca das relações de simpatia e/ou antipatia entre os Espíritos (questões 386 e seguintes), revelando que nem sempre elas resultam de um conhecimento do passado reencarnatório; devem-se à compatibilidade ou incompatibilidade fluídica entre dois seres ou à diversidade no modo particular de pensar: “Mas, à medida que eles forem se elevando, as diferenças se apagam e a antipatia desaparece”. Assim foi que, abrandado o ímpeto de Saulo, o doutor da lei pôde pensar melhor a respeito de quem lhe parecia antes um desafeto, reputando-lhe a causa de seus dissabores. Por isso é que Jesus nos ensina a não julgar, “porque com a mesma medida que medirdes vos medirão” (Mateus 7:1-5).

A opinião de alguém sobre outrem pode ser boa ou má, podendo, neste último caso, levar ao julgamento condenatório do qual devemos nos precaver. Certa vez, o Mestre, estando a sós com os Doze, perguntou-lhes o que as pessoas e eles próprios achavam quem era Ele, porque então corriam na Palestina as mais diversas opiniões referentes ao Filho do Homem. A intenção de Jesus era fazer seus seguidores conscientes das tarefas que lhes cabiam através da convicção quanto à verdade de seu líder.

Para os espíritas, a verdade do Cristo é e será sempre a pureza de sua doutrina lastreada no mais puro dos sentimentos, o amor, e expressa no mais perfeito sistema de moral que a Terra jamais conheceu. Agora é nossa vez de, a exemplo dos judeus perante Ananias, dar nosso testemunho em relação ao Cristo, sendo-lhe discípulos fiéis e instrumentos afiados na prática do bem incondicional.

(*) Ver Paulo e Estêvão (ed. FEB), de Emmanuel, por Chico Xavier.


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