Francisco Muniz //
É da Epístola de Paulo aos Hebreus, escolhida
aleatoriamente, que retiramos da Bíblia de Jerusalém o versículo que
comentaremos neste dia 21 de dezembro, em prosseguindo nosso estudo de
passagens do Novo Testamento. O verso destacado é o 21º e integra o capítulo 12,
estando sob a epígrafe “As duas alianças”:
“Na verdade, de tal modo era terrível o espetáculo, que
Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo!”
Os fatos descritos no Velho Testamento, sobre o modo iracundo
como a Divindade se relacionava com o povo escolhido – os hebreus, antepassados
dos judeus -, através de fenômenos e imagens espantosos (o fogo ardente, a
escuridão, as trevas, a tempestade, o som da trombeta e o clamor das palavras)
eram o que assustava Moisés, o grande legislador que libertara aquele povo da
servidão no Egito e o conduzira à Terra Prometida. Dessas imagens o próprio
Jesus se utilizaria para tocar a mente impressionável de seus contemporâneos,
necessitados de palavras fortes que lhes possibilitassem acreditar em sua
missão sublime.
Eis o de que Paulo tenta fazer recordar os destinatários de
sua Carta. Segundo o Apóstolo dos Gentios, os judeus de então não se
aproximaram “de uma realidade palpável” como os episódios testemunhados por
Moisés e os antigos profetas, porquanto os antepassados “suplicaram não se lhes
falasse mais”. Agora, com o Cristo, o quadro fenomênico era bem diferente: “Vós
vos aproximastes do monte Sião e da Cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial,
e de milhões de anjos reunidos em festa, e da assembleia dos primogênitos cujos
nomes estão inscritos nos céus, e de Deus, o Juiz de todos, e dos espíritos dos
justos que chegaram à perfeição, e de Jesus, mediador de uma nova aliança, e do
sangue da aspersão mais eloquente que o de Abel” (Hebreus 12:22-24).
Ou seja: vivemos, desde os dias de Jesus, a grande Páscoa
que é, em verdade, o banquete espiritual para o qual somos convidados de há
muito e que teimamos em recusar. É, ainda e sempre – isto é, até o momento em
que nossa consciência despertar para a verdade de nós mesmos, Espíritos
imortais destinados à religação com a dimensão divina – a eterna luta íntima entre
o Bem (Realidade de Deus, caracterizada pela imortalidade) e o Mal (realidade humana,
ou mundana, marcada pela materialidade perecível). No centro dessa batalha está
o homem, chamado a esclarecer-se – mergulhar na luz! – para se capacitar às
escolhas conscientes que o libertarão do domínio do ego, que o quer ignorante e
servil.
O que assustava os antigos, por impressionar-lhes fortemente
os sentidos físicos e psicológicos pouco desenvolvidos, eram, pois, os
fenômenos que hoje entendemos como espíritas, os fatos relativos à ação dos
Espíritos sobre a matéria pesquisados por Allan Kardec. O Espiritismo veio
auxiliar o avanço relativos a tais conhecimentos, sendo necessário, segundo o
Codificador, as pessoas compreenderem que esses fenômenos todos, frutos da
faculdade mediúnica presente em todos os homens, têm uma finalidade: “Mas
muitos daqueles que creem nos fatos das manifestações, não compreendem nem as
suas consequências, nem o seu alcance moral ou, se as compreendem, nãos as aplicam
a si mesmos (...)” (*)
Recordamos que o principal objetivo da Revelação Espírita,
conforme Kardec registra em O Livro dos Espíritos, é a transformação
moral de toda a Humanidade, a partir da evangelização que leva à moralização de
cada criatura, porquanto o Espiritismo adota como princípio norteador dessa
transformação a moral do Cristo. Assim, nestes dias em que relembramos o
nascimento de Jesus, nosso Senhor e Salvador, tenhamos em mente a Regra de Ouro
que resume inteiramente seu ensino moral: “O que quereis que os outros vos
façam, fazei-o também vós a eles: esta é toda a lei e os profetas!” (Mateus
7:12)
(*) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, item
4: “Os bons espíritas”.
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