Francisco Muniz //
No Evangelho de João, o capítulo 12, correspondente a este
mês, e o versículo 20, referente a este dia 20 de dezembro, aparecem sob a
epígrafe “Jesus anuncia a sua glorificação através da morte”. Vivia-se a festa
da Páscoa, a última a que o Messias compareceria encarnado, e as multidões
enchiam as ruas de Jerusalém que, havia pouco, observara a entrada triunfal do
Mestre nazareno, montado num jumentinho, cumprindo as profecias de Isaías. O evangelista
João, pois, diz-nos, na Bíblia de Jerusalém, estas palavras que
comentaremos segundo as luzes da Doutrina dos Espíritos:
“Havia alguns gregos, entre os que tinham subido para
adorar, durante a festa.”
A Páscoa era a grande festa dos judeus e do Judaísmo, de
modo que atraía crentes e curiosos, interessados e interesseiros, ou, como
diríamos hoje, gregos e troianos. Neste caso, eram gregos e romanos – os invasores
– misturados aos judeus, porquanto no Oriente Médio Jerusalém era uma cidade
cosmopolita, assim como Roma, reunindo os adoradores do Deus único, do mesmo
modo como na atualidade os muçulmanos peregrinam a Meca em determinada época do
ano. Desta vez, porém, a grande atração da festa judaica era a presença do
Cristo, cuja fama alcançara todas as províncias dominadas pelo Império Romano.
Diz João que esses “alguns gregos” haviam procurado Filipe
manifestando a intenção de ver Jesus; Filipe, por sua vez, transmite o pedido a
André e ambos o externam ao Cristo, que em resposta “anuncia sua glorificação
através da morte”, revelando sua hora próxima: “Em verdade, em verdade, vos
digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se
morrer, produzirá muito fruto” (João 12:24). Faz muito sentido que o Mestre
tenha feito tal discurso estimulado pela presença de alguns gregos,
representantes da terra dos filósofos, os homens mais sábios de então. A Grécia
foi o berço não só de Sócrates e de Platão, precursores da doutrina de Jesus que
o Espiritismo revive, como nos informa Allan Kardec na introdução de O
Evangelho Segundo o Espiritismo.
Ali nasceram os iniciadores da Ciência moderna, os
descobridores do átomo e do movimento dos astros; os iniciadores da matemática
e da medicina, como Thales de Mileto, Demócrito e Aristóteles, alguns deles
sendo chamados a aconselhar reis e imperadores na tomada de decisões
importantes. Ou seja, sua sabedoria se expandiria sempre pelo mundo, fazendo herdeiros
e continuadores em todos os países; seriam os gregos, para o Cristo, como
outras cartas vivas de seu Evangelho de luz e amor alcançando outros povos,
outras ovelhas do imenso rebanho do Divino Pastor, até que um romano – Saulo (depois
Paulo) de Tarso –, sábio como um grego, viesse consolidar magnificamente essa
tarefa difusora dos ensinamentos cristãos.
E tudo isso para a glorificação do Cristo através da morte,
ou seja: como na expressão parabólica do grão de trigo que precisa morrer para
produzir seus frutos, a morte de Jesus ampliaria sobremaneira o alcance de suas
palavras. A ressurreição, assim, representa a germinação da semente,
propiciando uma produção tal que sua colheita beneficia milhares e milhares de
criaturas famintas da Verdade através dos tempos. Mais de dois mil anos após as
palavras de Jesus se cumprirem ainda as sentimos produzindo cada vez mais novos
entendimentos em nós mesmos, porquanto são lições de inesgotável sabedoria que
só benefícios trazem àqueles que, sedentos, buscam beber dessa fonte que
esclarece, consola e liberta dos erros milenares. Glória eterna a Jesus, o
Mestre do Espírito, através de cuja morte nós vivemos para Deus!
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Abra sua alma!