Esta data no Evangelho (2 de dezembro)

Francisco Muniz // 




Hoje calhou de abrirmos a Bíblia de Jerusalém na Epístola de Paulo aos Filipenses, na qual encontramos o versículo 12, correspondente a este mês, do segundo capítulo, representativo desde dia 2 de dezembro, para nossos comentários à luz da Doutrina Espírita. O assunto nos fez recordar recente conversa com uma querida amiga, médium atuante, a quem dedicamos este estudo. Eis o texto:

“Portanto, meus amados, como sempre tendes obedecido, não só na minha presença, mas também particularmente agora na minha ausência, operai a vossa salvação como temor e tremor (...)”

Sim, falaremos sobre a obediência, a resignação e o livre-arbítrio como termos integrantes do que se convencionou chamar de “vontade de Deus”. É exatamente o que se encontra nas reticências dentro dos parênteses que quebram a frase de Paulo, apontando para o versículo seguinte: “(...) pois é Deus quem opera em vós o querer e o operar, segundo a sua vontade”. Após ter feito tal revelação, o Apóstolo dos Gentios complementa seu pensamento pedindo aos membros da igreja de cidade de Filipos (1) – e a todos nós, hoje em dia! – que façamos tudo (nossos deveres na Terra) “sem murmurações nem reclamações”, para nos tornarmos “irreprováveis e puros”.

Em nossos estudos das lições do Espiritismo aprendemos que Deus não cria o Espírito pronto, tal qual o entendemos, mas o princípio espiritual que vai se desenvolver através de experiências milenares nos reinos inferiores. Quando enfim ele progride tanto que já não precise mais estagiar nas fases primitivas, ele ganha dois importantes atributos que vão caracterizá-lo efetivamente como Espírito e encarnar unicamente na espécie humana. Esses dois “prêmios” são a consciência de si mesmo e o livre-arbítrio; no primeiro estão gravadas as leis de Deus (a vontade do Criador) e o conhecimento do bem e do mal; no segundo, o Espírito encontra a possibilidade de fazer escolhas baseadas ou não nas divinas leis que o ajudarão no processo evolutivo até que alcance aquela perfeição proposta pelo Cristo.

No livro da Gênese, no Velho Testamento, o episódio lendário acerca da expulsão de Adão e Eva do Paraíso se oferece como preciosa metáfora do que acabamos de expor acima, levando-nos a considerar que, uma vez consciente do que é e do que precisa fazer para retomar as alegrias da convivência com o Pai amado – o próprio Paraíso –, o Espírito precisa se exercitar na matéria. No início, seu saber é incipiente e por isso fará escolhas compatíveis com seu amadurecimento psicológico, o qual se desenvolverá de acordo com sua compreensão acerca dos papéis que é chamado a desempenhar no palco da Vida. Como Raul Seixas canta numa de suas composições, “o homem é o exercício que faz”.

Assim, quanto mais ele utilize seu livre-arbítrio para o bem, ouvindo e obedecendo à própria consciência, que é a voz de Deus falando-lhe na acústica da alma, o Espírito tenderá a conhecer com mais plenitude a vontade divina, resignando-se ante as ocorrências que não pode evitar, crescendo cada vez mais no rumo da Evolução. Não fazer isso, ou seja, reclamar dos desígnios de Deus, que aparentemente atrapalhariam sua caminhada, é manter-se na contramão do progresso espiritual, postergando as alegrias do reencontro ou da união definitiva com o Senhor dos Mundos e da Vida. É então que o Cristo aparece para nos sustentar nessas experiências, mostrando como e por onde devemos caminhar: “Eu sou o caminho da verdade e da vida, ninguém vai ao Pai senão por mim” (Carlo T. Pastorino e Huberto Rohden concordam que as preposições são mais adequadas à expressão registrada em João 4:6).

No tópico intitulado “Obediência e resignação” de O Evangelho segundo o Espiritismo (2), o Espírito Lázaro nos diz que “a obediência é o consentimento da razão, a resignação é o consentimento do coração; ambas são forças ativas, porque carregam o fardo das provas que a revolta insensata deixa cair”. Meditemos sobre tais forças e saberemos tomar as melhores resoluções.

Notas

(1) Filipos foi uma cidade importante do Império Romano, considerada uma porta de entrada da Europa em relação aos visitantes provenientes da Ásia. Era Localizada a leste da antiga província da Macedônia, a 13 km do mar Egeu, no topo de uma colina (Wikipédia).

(2) Cap. IX, item 8 das Instruções dos Espíritos.


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