Francisco Muniz //
As “apreensões e inquietudes de Paulo” são a epígrafe do
versículo 19 do capítulo 12 da Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios, cujo
texto dá o mote dos comentários que faremos hoje, dia 19 de dezembro, no âmbito
de nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento. Eis o que diz o versículo,
recolhido na Bíblia de Jerusalém:
“Desde muito, julgais que nós nos queremos justificar
diante de vós. Não; é diante de Deus, em Cristo, que falamos. E tudo,
caríssimos, para a vossa edificação.”
Essa inquietação do Apóstolo dos Gentios prossegue o
constrangimento que o levou a elogiar a si próprio, conforme já vimos aqui
anteriormente. Desde aquele momento, Paulo tenta, nessa segunda Carta à igreja
de Corinto, fazer com que os fiéis não se impacientem e sigam firmes na fé
abraçada. Ora, a razão para isso é que, ainda hoje, as pessoas, desconhecedoras
da força que têm para cumprir o compromisso assumido em nome do Cristo, se
ressentem da falta de um líder que as conduza ao objetivo almejado. E Paulo, um
líder nato, não tinha somente os coríntios para apascentar, havia também as
igrejas de Roma, da Galácia, Tessalônica, Éfeso, Filipos e Colossos, além da de
Jerusalém, identificada na Epístola aos Hebreus.
E por quem o Apóstolo executava semelhantes trabalhos? Tanto
quanto ele, nós também agimos sempre diante de Deus, não precisando nos
justificar perante ninguém, porquanto todo o bem que levamos a alguém é a
oferta que depositamos no altar erigido na alma em nossa dedicação à Divindade,
pelo Cristo. Lucas julgou que tal pensamento seria inquietação resultante das
apreensões de Paulo, do mesmo modo como na atualidade medimos nossas ações em
favor das criaturas, uma vez que a ação benemerente no mundo se reveste de
algumas dificuldades, considerando as provas e expiações enfrentadas no
planeta.
Entretanto, assim como Paulo não tergiversou, também nós
devemos seguir adiante na trilha da caridade, entendendo, com Pedro, que “o
amor cobre a multidão dos pecados” (1 Pedro 4:8), assim afrontando as
dificuldades do caminho. Porque o bem precisa ser realizado e, bem mais, nós
precisamos nos realizar no bem, em vista de nosso passado delituoso que devemos
corrigir através das atitudes benemerentes que o Cristo nos oportuniza na
Terra, em nome da bondade divina.
Nesse trabalho, o qual devemos realizar “até mesmo com os
joelhos desconjuntados” (Hebreus 12:12-15),
torna-se imperioso ouvirmos continuamente o apelo do Cristo quanto a
perseverarmos na caminhada sem temer as ameaças às margens do caminho: “Quando
vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. E se vos perseguirem nesta, fugi
para uma terceira” (Mateus 10:23). A tarefa, como se vê e percebe, não é mesmo
fácil, porque nem todo mundo quer, por enquanto, assumir a próprias
responsabilidades, transformando-se moralmente, preferindo seguir cegos e
mancos na contemplação da realidade material, ilusória, desprezando os apelos
ao próprio despertamento.
Então, sim, as justificativas dos tarefeiros não são para
eles, que dormem, mas para Deus, que os despertará; mas mesmo assim os
tarefeiros, também necessitados de manterem-se despertos o quanto possível, devem
beneficiar os indolentes, levando-lhes a palavra esclarecedora e a consolação
de que necessitam para ao menos compreenderem que não estão desamparados. Desse
modo é que a esperança lhes nascerá no âmago do ser e a fé, mostrando-lhes a
verdade do Cristo em Deus, os impulsionará cada vez mais na viagem de ascensão espiritual.
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