Francisco Muniz //
Hoje, dia 16 de dezembro, nosso estudo de passagens do Novo
Testamento nos indica o versículo 16 do capítulo 12 da Epístola de Paulo aos
Romanos, que usa a epígrafe “Amor para com todos os homens, mesmo para com os
inimigos”. Certamente o “espírito natalino” já se insinua entre nós,
fazendo-nos mais receptivos a tais inspirações e atraindo assim temas mais
próximos do coro dos anjos na noite do Advento de Jesus: “Glória a Deus nas
alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. Leiamos, pois, o texto da Bíblia
de Jerusalém:
“Tende a mesma estima uns pelos outros, sem pretensões de
grandeza, mas sentindo-vos solidários com os mais humildes: não vos deis
ares de sábios.”
Eu costumava ter sonhos em que me via voando... os intérpretes
das aventuras oníricas dizem que sonhos assim significam anseios de
liberdade... mas raramente eu conseguia, nesses meus sonhos, voar muito alto;
geralmente ficava na altura dos postes da rua, embaraçando-me na fiação, quando
não estava tão baixo que os caminhantes podiam agarrar meus pés e me puxar para
o chão! Quereria isso dizer que eu não seria tão livre quanto eu gostaria, em
razão da dependência estabelecida com quem se contenta em se arrastar sobre o solo?
A explicação pode ser outra e estar de conformidade com as palavras de Paulo de
Tarso que ora analisamos.
Se o Apóstolo dos Gentios fala em sermos ou sentirmo-nos “solidários
com os mais humildes”, é que nos apresentamos, talvez falsamente, humildes
também, devendo refrear tais sonhos de grandeza, reconhecendo-nos desprovidos
de qualquer mérito que nos coloque acima dos demais. Não nos darmos,
verdadeiramente, “ares de sábios”, ou seja, arrotarmos uma pretensa sabedoria
quando o que sabemos é infinitamente menor do que o que há para se saber, é
sinal de inteligência. Em nossa Casa de trabalho, o Centro Espírita Deus, Luz e
Verdade, a dirigente, Irmã Bernadete, diz-nos – a nós, os médiuns trabalhadores
– que ali ninguém se mostre como “sabichão”.
Huberto Rohden (*) segue por esse caminho e diz, em seus
livros de filosofia univérsica, que devemos amar nossa ignorância, o que deve
ser entendido como o reconhecimento de que nada sabemos, assim como se exprimiu
o filósofo Sócrates um dia, na Grécia clássica. Segundo Rohden, ao nos
desfazermos das vacuidades do pretenso saber do mundo permitimos que Deus nos
preencha com a verdadeira sabedoria, a qual devemos saborear intensa e
integralmente. É nesse sentido que o Cristo pede que conheçamos a Verdade que
nos fará realmente livres dos empeços ao voo grandioso da alma, do Espírito
imortal, na direção da fonte da Sabedoria, voando para frente e cada vez mais
alto!
Somente aqueles que se fazem pequenos podem ser engrandecidos,
como bem frisou Jesus ao dar graças ao Pai por revelar as coisas celestiais – a
realidade do Espírito imortal – aos simples e pequeninos, em vez de mostrá-las aos
“sábios e prudentes”, porquanto estes, orgulhosos e cheios de si, na
conceituação de Allan Kardec, simplesmente as desdenhariam. Por essa razão a Boa
Nova do Reino do Céus fora melhor recepcionada pelos pobres, desesperançados e
doentes, e pelas “pessoas de má vida”, tal como eram consideradas dois mil anos
atrás: os criminosos, as prostitutas, os cobradores de impostos... os quais,
segundo o Mestre, terão prevalência na admissão ao Reino.
(*) Filósofo brasileiro, que ensinou na Universidade de
Princeton, nos EUA, os fundamentos da Filosofia Univérsica, que criou e
espalhou pelo mundo através de cursos e livros baseados na metafísica do
Cristianismo.
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