Francisco Muniz //
No capítulo 15 da Primeira Epistola de Paulo aos Coríntios o
Apóstolo dos Gentios aborda a questão da ressurreição dos mortos, sendo este o
título da terceira parte dessa Carta, na qual o versículo 12, que hoje, dia 15
de dezembro, comentaremos, é colocado sob a epígrafe “O foco da ressurreição”.
Eis o texto lido na Bíblia de Jerusalém:
“Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como
podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos?”
A ressurreição de Jesus ainda hoje é causa de divergências
entre os homens que não conseguem enxergar além da realidade material. Não têm
olhos de ver, conforme a conceituação do Mestre nazareno, porque colocam sua
certeza, em casos assim, na apreciação dos despojos cadavéricos, onde
aparentemente não há vida. Nesse aspecto, eles estão, ao mesmo tempo, certos e
errados, posto que, de acordo com Lavoisier (1), nada se perde ou se ganha em a
Natureza: tudo se transforma – e desse modo as moléculas de um corpo morto vão se
desagregar para formar outros corpos. A vida, portanto, segue seu curso,
indefinidamente. Quanto ao cadáver, não havendo nele qualquer possibilidade de
fazer retornar o Espírito, que é o que garante a vitalidade do corpo material, é
impossível mesmo que volte a viver.
Do ponto de vista da medicina, é possível ressuscitar
algumas pessoas dadas como mortas, desde que sejam tomadas providências rápidas
nesse sentido, obtendo-se sucesso porque não houve a efetiva separação da alma
em relação ao corpo, que ainda mantém, nesses casos, o quantum de fluido vital
indispensável para a ligação perispiritual. Mas ressuscitação é diferente de ressurreição: este conceito, recordando o episódio protagonizado pelo Cristo, é a base da fé católica
(universal), que fez dele um dogma (2), e a razão de ser do Cristianismo
disseminado pelo Apóstolo dos Gentios. Jesus, de fato, ressurgiu dos mortos,
mas não do ponto de vista esposado pela medicina. Como no fenômeno da transfiguração
no monte Tabor, ele apareceu a seus discípulos – às mulheres em primeiro lugar –
com seu corpo espiritual, a estrutura semimaterial que Allan Kardec batizou de
perispírito (3).
Segundo o codificador do Espiritismo, o períspirito dá-nos a
chave para a explicação de muitos, senão todos, fenômenos espirituais,
antigamente chamados de sobrenaturais apenas porque não se conheciam as leis que
regem a relação entre o Espírito e a matéria. Sob esse aspecto, não há
milagres, porque tudo quanto acontece na esfera física, mundo dos efeitos,
obedece às leis naturais, que são divinas, isto é: são perfeitas e sábias – imutáveis
portanto! A ressurreição, assim, deve ser
entendida do ponto de vista do Espírito imortal, significando sua reentrada
consciente no ambiente que lhe é próprio – o plano espiritual, normal e
primitivo. É nessa acepção que a conceitua Emmanuel, que foi mentor de Chico
Xavier, salientando que muitos partem da Terra completamente ignorantes do que se
lhes passou, chegando à Espiritualidade como clandestinos, pois que apenas morreram.
Mas aqueles de nós que fazemos esforços para despertar de
nosso sono milenar, somos candidatos à ressurreição, desde que cumpramos as disciplinas
que promovem o autoconhecimento, tais como o desapego e a prática da caridade
com abnegação. Assim venceremos a morte, possibilitando a desencarnação e a
readaptação de certo modo imediata ao mundo dos Espíritos, de onde viemos e
para onde retornaremos ao fim de nosso estágio na Terra.
Notas
(1) Antoine-Laurent de Lavoisier foi um nobre e químico
francês fundamental para a revolução química no século XVIII, além de ter
grande influência na história da química e da biologia. É considerado o
"pai da química moderna".
(2) Dogma, de acordo com a Teologia, é um artigo de fé sobre
o qual é impossível questionar.
(3) Ver O Livro dos Espíritos, questões 93 e
seguintes.
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