Esta data no Evangelho (14 de dezembro)

Francisco Muniz // 




O versículo 14, correspondente a este dia, do capítulo 12 do Evangelho de Marcos traz como epígrafe “O imposto a César”, um tema que provoca discussões até a atualidade. Esse é, portanto, o assunto que vamos comentar hoje, dia 14 de dezembro, no âmbito de nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento, sob a luz da Doutrina Espírita. O texto, colhido na Bíblia de Jerusalém, é o seguinte:

“Vindo eles, disseram-lhe: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e não dás preferência a ninguém, pois não consideras os homens pelas aparências, mas ensinas, de fato, o caminho de Deus. É lícito pagar o imposto a César ou não? Pagamos ou não pagamos?””

O “eles” a que o evangelista se refere são “alguns dos fariseus e dos herodianos” que, opositores do Messias, aproximaram-se dele nesse dia pretextando “enredá-lo com alguma palavra”. Entre o povo judeu escravizado pelo poder de Roma, que lhes permitia, contudo, professar sua religião e manifestar sua cultura, era revoltante pagar tributo ao invasor, embora vissem que o domínio estrangeiro lhes trazia algumas vantagens, como a proteção contra os inimigos, por exemplo. No tocante aos impostos, porém, pelo que a questão levada a Jesus se justifica, fariseus e herodianos (1) não compartilhavam da mesma opinião: os primeiros eram contrários e os outros, claro, favoráveis. O Nazareno poderia, de alguma forma, conciliar as duas posições?

Vemos, no versículo, que ainda não é o momento de analisarmos a resposta de Jesus, de modo que nos debruçaremos tão somente sobre a dúvida: é lícito, ou seja, é juridicamente legal, é da lei pagar impostos aos governantes, ainda que sejam estes usurpadores dos recursos amealhados com grande dificuldade pelo povo sofrido? Como se percebe, a questão nos atinge diretamente – e não só aos judeus – ainda hoje, observando-se, muito especial e especificamente as condições em que vive grande parte da população brasileira, a quem faltam assistência e serviços básicos.

Não nos enganemos, porém, deixando-nos levar por arroubos emocionais, porquanto a realidade da vida material diz respeito às provas individuais e coletivas que todos nós, Espíritos imortais, vimos cumprir na Terra. Estabelecendo-nos, portanto, como cidadãos, temos deveres e obrigações a observar, colaborando para o progresso coletivo, mesmo à custa de alguns sacrifícios. Nesse aspecto, o pagamento de tributos é uma necessidade nascida de uma imposição – por isso se chama imposto! – por parte da autoridade governamental, que precisa de recursos para, em tese, proporcionar benefícios à coletividade.

No entanto, as camadas mais sacrificadas quanto ao pagamento de impostos têm sido, historicamente, aquelas menos aquinhoadas do ponto de vista econômico, enquanto a parcela mais rica, por mancomunar-se com os mandatários, muitas vezes sonegam essa obrigação, daí a revolta farisaica, digo, popular. Quer dizer, a mordida do “leão” é muito mais agressiva sobre quem tem menos. A adoção, aparentemente, de dois pesos e duas medidas põe em xeque a validade de se pagar tributos, que dessa maneira parece algo injusto: se é para o bem comum, geral e irrestrito, todos deveriam colaborar e, em consequência, receber os melhoramentos sociais que o progresso proporciona.

Somos, contudo, um país jovem e uma nação marcada por fatores complexos resultantes de nossa condição espiritualmente inferior, e assim preferimos nos colocar na posição dolorosamente cômoda da subserviência e da bajulação às autoridades de plantão que momentaneamente encarregamos de nos servir – mas, contraditoriamente, deixamos que se sirvam de nós. Recomendamos, portanto, a leitura atenta de O Livro dos Espíritos (2), que em sua terceira parte nos informa quanto à Lei do Progresso como base e finalidade das relações sociais.   

Notas

(1) Os herodianos são os funcionários da corte de Herodes. Embora não formem um grupo social, concretizam a dependência dos judeus aos romanos.

(2) Allan Kardec, ed. FEB.


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