Francisco Muniz //
Sob a epígrafe “Cura da mulher encurvada em dia de sábado”, o
versículo 12 do capítulo 13 do Evangelho de Lucas traz-nos o tema de nossos
comentários neste dia 13 de dezembro, com base nos princípios doutrinários do
Espiritismo. O texto, retirado da Bíblia de Jerusalém, novamente “quebrado”,
é o seguinte:
“Vendo-a, Jesus chamou-a e disse: “Mulher, estás livre de
tua doença” (...)”
Nas reticências está o complemento, correspondente ao
versículo 13: “(...) e lhe impôs as mãos. No mesmo instante, ela se endireitou
e glorificava a Deus.” Lucas, contemporâneo de Paulo de Tarso que, como este,
não conhecera o Mestre pessoalmente, fez um trabalho de pesquisa para compor
seu evangelho; contudo, aqui ele deixou informações soltas, indicando vagamente
que nessa ocasião Jesus ensinava numa das sinagogas aos sábados, sem revelar em
que parte da Palestina o Messias se encontrava. Talvez fosse Cafarnaum. No
entanto, Lucas salienta que essa mulher estava encurvada devido a uma obsessão
que durava 18 anos.
Pastorino (1) é de opinião que, quando uma cura física se dava
pela ação sempre consciente do Cristo, o beneficiário já havia atingido o tempo
de duração da prova, merecendo o beneplácito. O caso dessa mulher encurvada
deve obedecer ao mesmo princípio, porque não é ela quem implora a Jesus, o Mestre
é que a chama para libertá-la da longa constrição a que seu perseguidor
invisível a sujeitava. O tempo dessa prova, 18 anos, já estava, segundo o método
de avaliação de Pastorino, mais que cumprido, uma vez vencidos dois períodos de
sete anos – número dos passos da iniciação espiritual na Ordem da qual o Cristo é
sumo sacerdote – e já se encaminhando para o terceiro.
Do ponto de vista da ciência espírita, toda cura obedece a
um processo natural no qual tem preponderância a vontade do agente curador e a
ação dos fluidos espirituais que ele “manipula” pelo pensamento, conforme Allan
Kardec explica em A Gênese (2), de modo que não há milagres a não ser nas
concepções meramente supersticiosas. Esses fluidos podem ser emitidos através da imposição das mãos (o passe), pelo olhar, pela vibração da voz ("Eu o quero: sê curado!") ou pelo pensamento, quando das curas à distância. Comentando a questão das curas, e
procurando instruir os médiuns detentores de semelhante faculdade, o Espírito
Emmanuel salienta que “não nos interessa apenas a regeneração do veículo em que
nos expressamos [o corpo físico], mas, acima de tudo, o corretivo espiritual” (3).
O médium é um instrumento a serviço da Espiritualidade e por esta razão Emmanuel
aduz (4): “É sempre útil curar os enfermos, quando haja permissão de ordem
superior para isto”.
Emmanuel diz isso porque há situações em que a cura física
não é possível, de forma que o melhor é o enfermo compreender que seu restabelecimento
depende do aprendizado na convivência com a doença, ou seja, é preciso que haja
a cura interna, do ponto de vista espiritual, antes que ela se processe externamente,
no corpo somático. É o que se depreende da recomendação de Jesus a seus
discípulos, avisando que, além do benefício curativo, é imprescindível instruir
os doentes quanto à necessidade de íntima renovação, o que significa buscarmos
o Reino de Deus e sua justiça para que nos sejam acrescentadas todas as outras
coisas (Mateus 6:33).
Notas
(1) Carlos Torres Pastorino, autor da portentosa obra Sabedoria
do Evangelho (ed. Sabedoria, RJ), em oito volumes.
(2) Cap. XIV – Os fluidos.
(3 e 4) Pão Nosso, psicografia de Francisco Cândido
Xavier, ed. FEB.
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