Esta data no Evangelho (10 de dezembro)

Francisco Muniz // 




É do capítulo 10, referente a este dia 10 de dezembro, do Evangelho de Mateus que tiramos o versículo 12 para nossos comentários, prosseguindo nosso estudo sobre passagens do Novo Testamento, sob as luzes da Doutrina Espírita. O texto, exarado da Bíblia de Jerusalém, é parte do Discurso Apostólico de Jesus e é colocado sob a epígrafe “Missão dos Doze”:

“Ao entrardes numa casa, saudai-a.”

Em nota de rodapé, os organizadores da Bíblia de Jerusalém salientam que “a saudação oriental consistia em desejar a paz. Esse desejo é concebido como alguma coisa bem concreta, que não pode ficar infrutífera e, por isso, caso não possa realizar-se, volta àquele que a pronunciou”.

Comecemos dizendo que a exortação de Jesus a seus apóstolos tem a prévia exigência de uma pesquisa: “Quando entrardes numa cidade ou num povoado, procurai saber de alguém que seja digno e permanecei ali até vos retirardes do lugar”, conforme Mateus informa no versículo 11. Isto nos recorda uma historinha com sentido moral lida não sei onde e há muito tempo: um homem mudou-se para outra cidade e, procurando um dos moradores mais antigos, quis saber como era o caráter do povo dali, ao que o ancião, respondendo, perguntou-lhe: “Como eram as pessoas da cidade de onde você veio?” E o homem explicou que eram pessoas de maus modos, intolerantes, inconvenientes. “Pois aqui você encontrará pessoas iguais”, disse-lhe o velho, explicando que trazemos conosco o que nos incomoda ou agrada em todo aquele que cruza nosso caminho.

Assim, o Cristo, Mestre e conhecedor da psicologia dos Espíritos, pede-nos que nosso comportamento seja sempre pacífico e pacificador, para que preservemos nossa tranquilidade íntima, levando-a para onde quer que sejamos levados, com a finalidade de tornar sempre harmoniosas as relações com os semelhantes. O conhecimento do Evangelho e, mais ainda, o mergulho em sua essência, isto é, na própria alma amorosa do Cristo, transforma-nos paulatinamente em discípulos mais conscientes e melhores, transmitindo aos outros, automaticamente, as boas energias de que somos portadores.

Como o conhecimento do Evangelho é parte de nosso processo de reeducação espiritual, é mister repetirmos com a frequência necessária a repetição da leitura e meditação de suas lições, para que nossa mente, habitualmente dispersiva, consiga reter alguns conceitos importantes na adoção de atitudes que, uma vez condicionadas ao desejo de crescer e melhorar, resultarão em disciplinas e exercícios pacificadores do ego rebelde. A alma anseia por isso e se encanta com os exemplos que enxameiam por aí, convidando-nos à tão almejada reforma íntima, porque se o Espírito é criado imaculado, a alma, afeita ao contato com a matéria, é facilmente corrompida, tornando imprescindível o banho de luz que tanto revela quanto a limpa das impurezas que carrega.

Saudar uma casa, portanto, é doarmos nossa paz íntima a cada irmão (casa viva!) que encontrarmos em nosso percurso no rumo da evolução, porquanto não crescemos sozinhos, precisamos uns dos outros para concretizar esse desiderato, de acordo com os organizadores da Bíblia de Jerusalém. Por essa razão é que os indianos, por exemplo, saúdam-se mutuamente dizendo “namastê”, palavra que costumamos traduzir como “o deus em mim saúda o deus em você”. Etimologicamente, namastê é uma palavra originária do sânscrito que literalmente significa "curvo-me perante a ti" e é a forma mais digna de cumprimento de um ser humano para outro.


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