Francisco Muniz

Um raio não cai duas vezes na mesma casa, conforme reza o
dito popular, embora o pediatra de meus filhos, partidário desse conceito,
tivesse mudado de ideia ao constatar, nos anos 1990, que Caio e Ananda foram
acometidos de apendicite, um pouco tempo após o outro. Recordo esse episódio
porque a passagem do Evangelho de João que comentaremos hoje, dia 8 de
novembro, permite pensar assim. Vamos, portanto, analisar o versículo 8 do
capítulo 11 daquele livro, que tratam da “Ressurreição de Lázaro”, tema já
abordado aqui anteriormente. Eis o texto, retirado, sempre, da Bíblia de
Jerusalém:
“Seus discípulos disseram-lhe: ‘Rabi, há pouco os judeus
procuravam apedrejar-te e vais outra vez para lá?’”
O Mestre Jesus nos ensina, como se depreende dessa passagem,
a não temermos os perigos do mundo na hora em que somos chamados a auxiliar
alguém, a resolver um problema, a sermos úteis numa causa nobre. Aquele que
disse “não temais os que matam o corpo e não podem
matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a
alma e o corpo” (Mateus 10:28-33) alertava-nos, com palavras e
exemplos, que o essencial é da esfera do Espírito imortal, sendo o que deve
nortear nossa conduta na Terra. Fugir de nossas provas, pois, é um
despautério, porquanto somente Deus sabe quando é que de fato nos despediremos
do mundo.
Já dissemos aqui, algures, repetindo João Guimarães Rosa (1),
que “viver é perigoso”; e que, embora a Ciência afirme que as condições físicas
originárias do planeta não fossem propícias à vida, que surgiu por mero “acaso”,
aqui estamos. Ou seja: fomos criados para superar as condições adversas, vendo-as
como estímulo à caminhada que encetamos no rumo da evolução espiritual – tal o
grande objetivo de nossa existência. Nossos atos, cada vez mais conscientes, vão,
aos poucos, paulatinamente, concretizando semelhante desiderato e nisso é que
devemos insistir.
Jesus não se preocupou com o que os judeus poderiam fazem
com ele ao decidir ajudar seu amigo Lázaro, confortando assim o coração das
irmãs Marta e Maria, porque sabia que sua hora de partir do mundo, de volta ao
ambiente espiritual que constitui seu reino de amor, ainda não havia chegado. Sem
a consciência dilatada a esse respeito, ignorantes do que somos, manifestamos
esse temor do perigo que a princípio é o instinto de sobrevivência resguardando
nossa indumentária carnal. No entanto, esse medo não pode crescer ao ponto de
impedir nossos movimentos em prol da caridade. É então que o medo vem a ser o oposto
do amor.
O medo, assim como a preguiça, paralisa as melhores intenções
do homem e cria obstáculos ao progresso, de modo que precisamos do amor que
liberta para rompermos o casulo do ego e passarmos e contribuir mais e melhor
para o engrandecimento da Obra Divina na Terra. Por isso é que o Espírito
Fénelon nos conclama (2) a não crermos “na esterilidade e no endurecimento do
coração humano; ele cede, a seu malgrado, ao amor verdadeiro; é um ímã ao qual
não pode resistir, e o contato desse amor vivifica e fecunda os germes dessa
virtude que está nos vossos corações em estado latente”. E ele completa: “Caros
irmãos amados, utilizai com proveito essas lições: sua prática é difícil, mas a alma delas retira um bem imenso. Crede-me, fazei o sublime esforço que vos
peço: “Amai-vos” e vereis bem cedo a Terra transformada e tornar-se um Elísio,
onde as almas dos justos virão gozar o repouso”.
Notas
(1) Escritor mineiro, autor de Grande sertão: veredas.
(2) O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI, item
9.
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